25/08/2016

A ti, Mãe

A ti que não vais ao cinema ver um filme para maiores de 18 anos, desde o tempo em que não sabias o que era um esterilizador de biberões.

A ti que já nem sabes qual é o canal da séries - na verdade já nem sabes que séries ainda dão - pois a tua televisão está praticamente limitada ao Disney Chanel, Nickelodeon, Panda e Cartoon Network.

A ti que ouves os escárnios da tua sogra sobre a alimentação que dás ao teu filho, e aguentas estoicamente sem sequer lhe revirar os olhos.

A ti que ficas 3 horas à seca numa festa infantil, a ensurdecer com os gritos histéricos das criancinhas, a estremecer a cada estoiro de balão e a gramar conversas e suspiros de mães que quase desfalecem a cada salto do filho no insuflável.

A ti que não sabes o que é dormir até mais tarde, que esgotaste o teu repertório de truques para fazer o teu filho acordar a horas nos dias de escola, mas que te vês acordada pela pequena criatura às 7h de sábado para ir ver bonecos animados na televisão.

A ti que conheces todos os MacDonalds do teu concelho e arredores, e que achas que as Docas ainda são o sítio mais badalado da noite.

A ti que já não tens desculpas para justificar os consecutivos atrasos ao trabalho de manhã porque o miúdo não quer ficar na escola, as saídas mais cedo para a consulta de desenvolvimento dos 2 anos e 3 meses, e a hora de almoço mais demorada para ires ao El Corte Inglés procurar aquela mochila que a tua filha quer tanto e que não há em mais lado nenhum.

A ti que ignoras que as calças de cintura descaída já estão fora de moda mas que sabes onde encontrar ténis com rodinhas e luzes psicadélicas, e já conheces todos os bonecos dos Invizimals.

A ti que não tens tempo para ir ao ginásio, mas que ao final de uma hora a tomar conta dos teus filhos estás mais cansada do que uma manhã de treino intensivo.

A ti, Mãe que passas por tudo isto e mais um par de botas, um apertado abraço aqui desta tua homónima solidária que te vê e te compreende.

N.


03/08/2016

Acampar com crianças nas férias

Se aqui há uns três anos me falassem em acampar, isso seria coisa para me deixar de cabelos em pé e ar de mete nojo.
Mas a vida dá muitas voltas e, às vezes, deixa-nos de cabeça para baixo, obrigando-nos a fazer ajustes à nossa realidade. Para uma família, como nós, viciada em viagens, cuja noção de férias envolvia sempre pelo menos 2 aviões e hotéis de 4 estrelas, começar a acampar foi uma opção que envolveu algum trabalho mental e também algum investimento de tempo e dinheiro para nos prepararmos para esta realidade, da qual pouco ou nada sabíamos, e da qual tinhamos alguns preconceitos.
As (poucas) experiências de campismo em Portugal tinham sido traumáticas, mas já tínhamos ouvido dizer que em Espanha, França, Alemanha, os parques de campismo eram fenomenais. Então, no ano passado, lá arriscámos numa viagem aos Picos de Europa, em Espanha, com regresso pela costa norte das Asturias à Galiza e foi espetacular!

De facto, os parques de campismo são "outro campeonato" no que toca às comodidades, limpeza, acessibilidade e simpatia dos funcionários e mesmo dos outros hóspedes.
Depois da estranheza inicial, e de nos adaptarmos aos sons e rotinas (cozinhar sem ser na nossa cozinha, tomar banho em casas de banho partilhadas, ouvir os sons das árvores, dos grilos quando estamos na tenda...), a coisa acaba por se entranhar de uma forma quase viciante.
Foi uma experiência de duas semanas que adorámos e que prometemos repetir.
Este ano o destino escolhido foi França, e se me perguntarem "também em campismo?", a minha resposta é um entusiasmado e eufórico "claro que sim!".
Sobretudo para quem tenha crianças, acampar traz inúmeros benefícios, das quais saliento os seguintes:
- A autonomia. O ambiente do camping é bastante controlado e, sobretudo, frequentado por famílias que cuidam umas das outras. As crianças têm oportunidade de andar mais livremente pelo espaço, sem necessidade de constante super visionamento. Damos-lhes pequenos recados como ir comprar o pão, ir aos lava-loiças lavar um copo, e algumas liberdades como ir à casa de banho sozinhos ou ir para o parque infantil durante 30 minutos, permitindo-lhes assim maior autonomia;
- A sociabilização. Há crianças de várias nacionalidades e, entre os vizinhos das tendas em redor, o parque infantil ou a piscina, fazem-se sempre muitas amizades, provando que a língua não é uma limitação;
- Aprender a apreciar e respeitar a natureza. Para crianças de cidade é sempre uma excitação dormir, brincar, comer e descansar ao ar livre. Cedo perdem os medos dos sons da natureza e aprendem a gostar dos bichinhos, dos pés descalços na relva e de poder andar descontraídos todo o dia. Além disso, o ecoturismo pressupõe que deixemos sempre o espaço que ocupámos como o encontrámos, ensinando assim sobre a importância da ecologia.
São experiências inesquecíveis para as crianças e para nós, pais, que vibramos ao vê-los tão felizes.
Além disso, o campismo é algo que nos oferece tempo. Sem horários, tudo é feito ao nosso ritmo, calma e descontraidamente.

A viagem deste ano pretendia percorrer a costa Basca, subindo depois pela Bretanha até à Normandia. Um imprevisto com o carro impediu-nos de seguir os planos iniciais, fazendo-nos descer da Costa Basca para os Pirinéus, de modo a reduzirmos o número de quilómetros.
O parque de campismo em que estivemos na Costa Basca, perto de Biarritz, era pequeno mas amoroso, super verde e com parcelas espaçosas. Cada família tem direito a 80m2 de relvado para dispor a sua tenda e carro ou autocaravana. Havia uma piscina exterior aquecida, uma piscina infantil (também aquecida) e um spa. Um parque infantil enorme com um mega trampolim, um restaurante, um bar e um kids club que mantinha as crianças entretidas toda a manhã. Havia um lago onde se podia fazer piqueniques e andar de bicicleta ao redor.


Os WC eram impecavelmente limpos, sempre com papel higiénico macio e até gel de álcool para desinfectar. Os duches eram de tamanho familiar, super espaçosos e práticos.
O silêncio era imperioso a partir das 22h30, e começavam a ouvir-se gargalhadas e a cheirar a café às 9h. Houve trocas de bolachas, oferta de gasosas e sempre um vizinho a deitar um olho aos miúdos.
Houve, definitivamente, a vontade de ficar mais tempo, mas queríamos conhecer mais lugares, então seguimos para os Pirinéus, onde ficámos num camping num vale lindíssimo, com instalações de luxo (por exemplo os WC eram mais bonitos do que os de muitos hotéis de 4 e 5 estrelas onde já estive), 5 piscinas exteriores aquecidas e escorregas aquáticos. Foi a loucura!


Daí aventurámo-nos para passeios nas montanhas, com trilhos de mais de 2h junto a rios e cascatas e direito a andar de teleférico, de tele-cadeirinhas e ainda a descer 800 metros de montanha num tobogan sobre carris. Vimos a cascata mais alta de França, estivemos num dos picos mais altos dos Pirinéus, e fizemos piqueniques em locais de cortar a respiração. Estivemos num parque animal onde os animais estão sem semi-liberdade e onde pudemos alimentar e dar festinhas a marmotas, a imagem de marca da região. À noite ouvíamos os lobos a uivar ao longe, e acordávamos com coelhinhos à beira da tenda.

Foi muito, muito bom! Uma experiência enriquecedora e de crescimento em tantos sentidos, para cada um de nós, deixando-nos cheios de recordações que ficarão para sempre na nossa memória.
E claro, já estamos a planear a próxima viagem!

N.

12/05/2016

Mães que arriscam, filhos que petiscam

No outro dia, estava com o meu filho e marido a passear na praia quando começou a chuviscar. O meu marido apressou logo o passo para irmos para o carro e, daí a pouco, quando a chuva começou a engrossar, já ele gritava para que corrêssemos. Só que eu não corri.
Estava um daqueles finais de tarde bonitos, com um sol ainda forte e morno, e aquela chuva quase inusitada estava a saber-me estranhamente bem. Então, em vez de correr, parei e fiquei a sentir as gotas a cair na minha cara, quase numa dança da chuva.
O meu filho, ao ver-me ficar para trás, estancou e quis correr para mim, mas o meu marido já o puxava para chegarem mais rapidamente ao carro. Então, disse-lhe que o deixasse estar.

Pensam vocês "mas que mãe deixa o filho apanhar uma molha? Que inconsciente, deve estar a ver se o miúdo fica doente".

Bem, em minha defesa posso dizer que não sou inconsciente. Efetivamente, foi a tomada de consciência de que o meu filho, aos 6 anos, nunca tinha sentido a chuva cair em cima de si, de forma livre e intencional, que me impeliu a deixá-lo ter essa experiência (isso e conhecer bem o sistema imunitário do meu rebento).
Quantos de vocês já se permitiram olhar para o céu e sentir as gotas fortes de chuva molharem-vos o rosto, escorrendo como se tivessem vindo de um mergulho no mar? Sentir o couro cabeludo arrepiar-se, as roupas começarem a ficar mais pesadas, como se, de repente, nós já não tivéssemos peso, apenas o que nos envolve? E dançar à chuva? Rodopiar, saltar, beber dessa liberdade de não ter que fugir nem agarrar guarda-chuvas ou outros pertences. Só nós e a força da natureza...é muito bom!
O meu filho também gostou e fomos no carro a rir-nos, porque parecíamos uns gatos pingados (e não nos constipámos!).

Aqui há uns tempos, revia um álbum da minha infância quando tive outra consciencialização deste tipo. Numa fotografia, eu estava pendurada num tronco de uma árvore, de cabeça para baixo. E foi aí que me apercebi que o meu filho, provavelmente, nem sabia trepar a uma árvore. Mas que raio de infância é esta em que os miúdos não experimentam o que os rodeia?! É quase o B-A-BA de ser criança! Subir, escorregar, cair. Tentar ir pelo outro lado, alcançar um galho mais alto ou ficarmo-nos por um baixinho, mas pendurarmo-nos nele como se fossemos macaquinhos. Tão divertido!

Hoje em dia, com a informação assustadora que nos chega a toda a hora e o pouco tempo que temos para arriscar em atividades que podem dar para o torto, temos medo de tudo e acabamos por colocar os nossos filhos em redomas que julgamos torná-los seguros, mas na verdade estamos apenas a impedir que aprendam com os próprios erros, que experimentem, que sintam a responsabilidade de arriscar.
Claro que é muito menos stressante mantê-los a 50 cm de nós, fechados dentro da cerca do parque ou bem coladinhos ao chão porque daí não passam. Mas o que lhe estamos a ensinar? Do que os estamos a privar, que medos e limitações lhes estamos a incutir?

Proteger os filhos é também permitir que eles errem e se magoem, pois só assim eles poderão aprender a levantar-se sozinhos e a fazer melhor na próxima tentativa.

N.

23/04/2016

Respirar à grande e à francesa

Nesta Páscoa fomos à Disneyland Paris. E quando digo fomos, falo mesmo num plural que inclui 3 das autoras deste blog.
Bem, na realidade acabámos por não ir as 3, uma vez que, na véspera, a X. cancelou a viagem.
Um bombista suicida resolveu explodir o aeroporto de Bruxelas semeando, uma vez mais, o pânico e o medo para quem viaja pelo centro da Europa. A X., que ia só com a filha, não se sentiu confortável em deixar cá o pai da cria ansioso com esta situação, então optou por não ir.
A R. e eu arriscámos, mas tivemos que dar muitas explicações aos nossos filhos, para o facto de haver tanta polícia armada até aos olhos à saída do aeroporto, e por termos de ser todos revistados à entrada dos Parques. Não foi fácil transmitir os acontecimentos da véspera aos pequenos e ainda menos fingir que aquilo não nos preocupava e que, no mundo da fantasia, estaríamos seguros.
Na realidade até estávamos, ou pelo menos foi assim que nos sentimos, tendo em conta o que vimos (e o que não vimos). Só para terem uma ideia, a R. deixou o carrinho de bebé da filha parado à porta de uma loja por 15 minutos e quando voltou ele já não estava lá. Contrariamente ao que inicialmente pensou, o carinho não tinha sido roubado, estava intacto mas com os segurança do parque que não permitem que item nenhum fique "abandonado" mais de 10 minutos.

À parte disso, a verdade é que, no momento em que entramos na Disneyland, todas as preocupações ficam lá fora. O nosso universo passa a ser somente a Fantasyland, a Adventureland, a Frontierland e a Discoveryland, e os nossos maiores receios são apanhar filas com mais de 30 minutos para as diversões (o que acontece... muito!).
De um segundo para o outro, como se fossemos salpicadas por pó de fada, deixamos de ser as mães chatas e controladoras e passamos a ser mais umas crianças, no meio das milhares ali presentes.
Devo confessar que, com o meu filho, o único stresse que tive foi convencê-lo a andar na Hollywood Tower (que ele não andou) e lidar com a frustração dele (e minha!) por, após 2 horas na fila para o Ratatui, aquilo não render mais do que 2 fantásticos minutos.
Essa é a parte que mais custa, as esperas, que no meu caso só foram suportáveis porque abri uma excepção e permiti que o T. jogasse no telemóvel enquanto estávamos na fila. Assim até passava num instantinho... para ele!



A primeira vez que fui à Disneyland tinha 8 anos e a segunda tinha 26. Agora, com 34, não notei quase nenhuma diferença, parece que o tempo ali pára. Mas é um engano, não só não pára como passa muito rápido, aqueles 3 dias e meio souberam-nos a pouco, mas foram muito bem aproveitados!
Andámos em todas as diversões, desde o fofinho "It's a Small World" com cenários dos vários povos e culturas do mundo, às grutas dos Piratas das Caraíbas, a montanha russa do Indiana Jones, fintámos planetas e cometas na Space Mountain e andámos aos tiros galáticos com o Buzz Lightyear; vimos a Parada com todas as personagens nos espetaculares carros alegóricos, assistimos à fabulosa festa de encerramento com o video mapping que conta uma história projetada no palácio da Bela Adormecida, e deslumbrámo-nos com o grandioso fogo de artifício.
Comemos em restaurantes temáticos giríssimos, jantando uma noite no Planet Hollywood, outra na selva e ainda outra num castelo da Baviera. A R. até almoçou com as Princesas da Disney e com o Mickey, uma experiência inesquecível para as crianças (e não só)!


Ultrapassados os dramas alimentares (não há muita variedade e é tudo estupidamente caro), ninguém sai defraudado desta mágica e inesquecível viagem.
A viagem à Disneyland tanto faz sentido para crianças de 3 anos, que se encantam por personagens como o Dumbo, a Branca de Neve e o Peter Pan, como para as mais crescidas que já gostam de alguma emoção . Definitivamente, faz muito sentido para as mães e pais que ainda têm a sua criança interior aos saltos apreciam uma boa dose de adrenalina!

01/03/2016

Efemeridades

Tu que és ou vais ser Mãe, escuta o que tenho para te dizer.

Um dia, quando tiveres esquecido completamente as pernas inchadas da gravidez, os enjoos, a azia sem fim e o que passaste com o parto, vais ter saudades de estar grávida.

Um dia, quando os teus mamilos já tiverem recuperado a sensibilidade perdida ou "estragada" durante a amamentação, vais ter saudades desses momentos de máxima intimidade com o teu bebé.

Um dia, já o teu filho bebe leite sozinho de uma caneca, e tu vais ter saudades de lhe dar o biberão ao colinho.

Um dia, depois muitas noites choradas a pé, a mudar lençóis de cama molhados, depois de dezenas de passeios arruinados por xixis e cocós não controlados, e por roupas que, de tão sujas, foram diretamente para o lixo, vais ter saudades de mudar fraldas.

Um dia, já tu suspiras de alívio por o teu filho comer tudo pela sua própria mão, vais ter saudades dos tempos em que lhe davas a papa à boca, durante quase duas horas e com uma cozinha toda "explodida".

Um dia, quando o teu filho estiver a sair definitivamente da escolinha onde te custava deixá-lo, vais ter saudades dos tempos em que sabias que havia quem cuidasse tão bem dele.

Um dia, quando a tua casa estiver, finalmente, silenciosa e primorosamente arrumada, vais ter saudades dos tempos em que tropeçavas em Legos e havia sempre gargalhadas e gritos de fundo.

Um dia, quando não houver ninguém a chamar-te constantemente, vais ter saudades de quando te gastavam o nome "mãeeeeeeee", "oh mããaaaaaaaeeeee", "mamãaaaaaaaaaaaaaaaãaaaaaaa"!

Um dia vais lamentar cada berro que deste, cada palmada que te escapou, cada castigo que sentenciaste, cada promessa que não cumpriste, cada mentira que inventaste... mas acima de tudo vais lamentar já não teres a quem repetir cada uma dessas asneiras. Porque ser Mãe é isto mesmo, é errar e aprender e errar melhor, fazer diferente, voltar atrás, perder o orgulho. Admitir que somos humanas e que tudo isto é um work in progress, do trabalho mais difícil do mundo, que é também o melhor desta vida.

N.

24/02/2016

Aprender a brincar

O mercado está repleto de jogos didáticos e de atividades programadas para ajudar os nossos filhos a aprender brincando.
Sendo eu mãe de um rapaz, e sendo esse rapaz portador de um bicho carpinteiro de nível 3, é muito difícil convencê-lo a sentar-se e a concentrar-se em tarefas ou grandes explicações.
Na escola, sempre nos chamaram a atenção de que a sua capacidade de concentração era muito reduzida devido ao facto de ele só querer brincar.
Não ligámos muito aos 4 anos, até porque sempre tivemos ideia de lhe atrasar o ingresso no ensino básico, uma vez que ele só completaria os 6 em Dezembro mas, chegando ao final dos 5 anos sem grandes melhorias, começámos a preocupar-nos. Foi, sobretudo, quando a nova professora do meu filho sugeriu que poderia ter défice de atenção que achámos por bem consultar um psicólogo que lhe fizesse o despiste.
A psicóloga que o viu apurou que não havia patologia nenhuma a assinalar, que esta dificuldade de concentração não era mais do que uma consequência da sua prematuridade (por ter nascido às 30 semanas) e que acabará por se resolver com o tempo, embora devêssemos explorar com ele formas de lhe captar o interesse e de trabalhar a concentração.
Eu que tenho o trauma de ter sido sempre uma péssima aluna a matemática por ter tido um mau começo de aprendizagem e de não ter tido o devido apoio em casa, por isso assumi logo a tarefa como uma forma de exorcizar os meus fantasmas.
De que forma poderia eu ajudar o meu filho a ir melhor preparado para o ensino básico, respeitando o seu ritmo e a necessidade de brincar?
Ainda nas férias de verão começámos com os jogos de tabuleiro. Monopólio Junior para aprender 
as noções de compra e venda, preço e troco. Pictionary para treinar a expressão criativa. UNO, uma forma divertida para assimilar regras e perceber um jogo com várias dinâmicas. Peixinho (cartas normais) para conhecer os naipes e agrupar pares. E a lista de jogos continua...
Não sendo um jogo, descobri que as cadernetas de cromos também são ótimas para que as crianças 
aprendam a contar, percebam a relação entre os números, a ordem crescente e decrescente. Se a caderneta for didática, ainda melhor! O meu filho gosta especialmente da dos Animaizinhos, que lhe explica tudo sobre os animais, que ele adora. E ainda experimenta a arte de negociar.
Recentemente, comecei a introduzir pequenos jogos nos nossos passeios de fim de semana, do género caça ao tesouro, em que cada elemento encontrado vale x pontos, tipo "3 pontos para quem encontrar uma flor vermelha, 2 pontos para quem vir a letra 'E', 1 se encontrar um triângulo naquela pintura. No final, deve somar os pontos e calcular o seu resultado, podendo ou não haver um prémio simbólico.
A brincar a brincar, aprende a fazer contas enquanto trabalha a observação e a atenção.
Rebuçados e gomas também servem para ensinar a somar, subtrair e até multiplicar. E mesmo com 
os nossos disparates também podemos rimar!

Agora é o meu filho que me pede para jogarmos ao "caça pontos", e que me refresca a memória nas regras do UNO. E sei, sem qualquer dúvida, que o meu filho vai preparado para o 1º ano. 
Não porque sabe estas coisas, mas porque brincou tudo o que quis no momento em que mais precisou, e porque sabe que o poderá continuar a fazer, pois encontraremos sempre uma forma de aprender a brincar.

(N)



16/02/2016

Gratidão ao pai da minha filha

O meu divórcio é daqueles que não dá para explicar. Tenho um bom divórcio, seja lá o que isso quer dizer. Sim, temos divergências. Sim, temos problemas, discutimos... sim, é verdade.
Mas, por vias de Deus, do Universo ou de outra coisa qualquer em que acreditem, não interessa o quê, o importante é que conseguimos entender-nos em relação à Nês.
Só sei que, em prol da pessoa mais importante para mim e para o meu ex-marido, tudo se altera num segundo. Deixa de haver entraves, só existe uma escolha, o melhor para ela. Como aconteceu no Carnaval.

Faz-te bem, tão bem ires passear com o pai, filha...
Festejaste o dia com ele.
Estive entretida com as lidas domésticas. Quando chegou a hora em que pensei que me ia esparramar no sofá com um belo scone e um chá, apercebo-me de como sinto a tua falta.
Onde andarás? Tantas horas sem te ouvir chamar-me, que o vazio chega e bate em mim, como uma onda bate na areia da praia.
Do que me estou a queixar?! A campainha está quase a tocar, trim trim!
Estás quase a chegar para te abraçar, para te deitar e aconchegar na cama.

Obrigada, meu ex- marido por também tu fazeres de tudo por ela.
Por bastar um simples toque, um SMS e responderes logo. Por saberes o que importa para ela.
E que nada disso tem a ver com o casamento, pois tudo isto existe quando somos pais de coração. Quando não existe egoísmo. Quando existe um amor que supera qualquer outro. Amor de papás.
Obrigada, pai da minha filha. Obrigada por seres também meu amigo!

X.

18/01/2016

4 testemunhos de "Como sobreviver ao primeiro período letivo sem manual de instruções"

#1
Se a entrada dos nossos filhos na escola nos deixa com lágrimas de emoção nos olhos, os três meses que se seguem podem ser de verdadeiro pesadelo. Ninguém nos avisa, mas o primeiro período é semelhante a uma praxe académica. Escapei orgulhosamente a esta, mas já não fui a tempo de fugir da entrada da pequena criatura no 1º ano do resto da sua vida. Ups, acho que não podia! Livros já lhes perdi a conta, fichas mais do que muitas, os famosos T.P.C. voltaram à minha existência e os horários madrugadores também. Só as disciplinas nucleares chegam para nos dar dores de cabeça e são apenas três: Português, Matemática e Estudo do Meio, misturado com Artes Plásticas, Ginástica, Música, Filosofia, Inglês e Teatro, esta por opção da criança.
Já não aguento a canção da Maria Vasconcelos sobre os ditongos, mas muito obrigada por a ter composto, as vogais, as consoantes e os números até dez chegados em contas encavalitadas em cubos ou artimanhas estranhas, alheias a outros tempos. A exigência é tão grande, a pressão dos testes e avaliações enormes, que a sensação que tenho é que eu e a minha filha fomos atropeladas por um camião que não deu sinal de que se aproximava. Bom, talvez esta seja apenas uma sensação minha, porque apesar de cansada e nem sempre desejosa de se sentar a estudar, a minha descendente parece estar no bom caminho e, com apenas 6 anos, aguentou ter dois testes difíceis na mesma semana mais todos os outros. Quanto à avaliação: sou uma mãe exigente, sim, mas muito orgulhosa. Venham de lá a leitura e as contas depois do dez... Afinal, só faltam 14 anos para terminar a licenciatura!
C.


#2
E, assim do nada, dou por mim no início do 2º período letivo da cria. Olhando para dentro de mim notei que me sinto especialmente grata pelas ajudas que tivemos, tanto das minhas queridas amigas como do próprio colégio, que percebeu que a Inês é muito sensível, e que tem algumas questões de saúde.
E de todos os lados fomos acolhidas. A Nês teve uma grande vantagem: a empatia com a professora, que foi imediata. E confesso que comigo foi igual - tão doce a professora Vera...
Ajudou, essencialmente, nas questões emocionais da Nês, uma vez que foi uma grande mudança, saiu do ninho e foi lançada aos tigres. Uma escola muito maior, mais crianças e ela pouco preparada pelo anterior colégio para muitas coisas, que hoje eu sei serem banais, mas para ela foi tudo novo.
Mas juntas vencemos mais uma batalha. A nível escolar a Nês não teve problema nenhum de adaptação, e sempre a senti confortável na sala de aula com a aprendizagem do dia-a-dia.
Filha, estarei sempre à frente, atrás e ao teu lado. Continuemos a caminhar nesta jornada escolar!
 X.



#3
Diz que "Em casa de ferreiro, espeto de pau" e, ao que parece, confere, pelo menos às vezes.
Sou psicóloga de formação e, por algumas vezes, dei pareceres negativos para entradas precoces no 1º ciclo. Porque as crianças têm que brincar, porque têm que crescer com tempo, porque têm que ganhar maturidade com tranquilidade, porque têm o direito de não serem empurradas para o mundo dos crescidos, das notas, da competição e para um novo mundo que é de uma exigência estúpida e desmedida, que é como quem diz o nosso 1º ciclo (um grande bem haja ao nosso sistema educativo).
Bom, avante... O Afonso é condicional, faz anos em Novembro, o que significaria que entraria no 1º ano ainda com 5 anos. No último ano do pré-escolar ficou desde cedo presente a minha dúvida na sua transição para o 1º ciclo. Vai ou fica e repete os 5 anos?
A verdade é que o Afonso cresceu imenso neste último ano (também levou um apertão, é verdade. Mimadão, precisou de levar uma dose jeitosa de autonomia e trabalhámos a sua resistência à frustração). Com o apoio do colégio fomos seguindo a evolução e, a meio do ano, era clara a recomendação da Educadora e Psicóloga da escola: o Afonso está preparado para o 1º ciclo. Eu só fiquei convencida lá mais para o final do ano. O meu receio era que não fosse capaz de resistir às frustrações naturais que se adivinhavam, que se aborrecesse com a repetição das letras e números, que tivesse dificuldade em socializar com os novos amigos (porque mudaria de colégio).
Como é evidente, sou uma mente simples e despreocupada...
Bom....escolhemos o colégio de acordo com o que era mais importante para nós: que fosse acolhedor, que envolvesse os pais, que tratasse as crianças como crianças e que funcionasse como uma família. Encontrámos. O Afonso adorou o período de adaptação e fez amigos rapidamente.
A primeira semana de aulas foi, no entanto, difícil. Ele vinha altamente cansado e, sobretudo, vinha completamente baralhado com todas as novas variáveis que encontrou: menos tempo para brincar, mais regras, maior autonomia, meninos mais crescidos que às vezes fazem questão de mostrar que são mais crescidos, expressões novas (bué, ya, fosga-se,...), asneiras novas (estas vou passar), amigos que são amigos mas que são diferentes dos anteriores...
Tive muita calma para o amparar nesta fase. E outras vezes houve em que não tive calma nenhuma e desatei aos gritos (percebem a questão do "em casa de ferreiro...."?).
Depois dessa semana lá encaixou a nova rotina: os horários mais agressivos (deitar mais cedo e levantar mais cedo), os trabalhos de casa diários (uma estupidez, mas enfim...), o facto de ter menos tempo para brincar.
Feitas as contas: nota máxima para o Afonso que conseguiu chegar ao final do 1º período a saber ler e escrever (deixou de haver montra ou letreiro que passe despercebido pela criança); fez amigos de verdade, alguns já especiais; teve excelentes notas e, por fim (e mais importante que tudo), gosta da escola e entra todos os dias (ou quase todos vá) bem disposto e satisfeito.
Já a mãezinha... teve uma adaptação mais difícil: tem muitas saudades do colégio antigo (neste ainda não me sinto "em casa"), fez poucos amigos (tenho muitas saudades dos meus amigos do ano passado) e, embora esteja adaptada às rotinas novas, sente saudades das antigas (conversetas à entrada e saída do colégio, um cafézinho aqui, outro acolá). Feitas as contas: passei à rasquinha.
R.


#4
Para mim, o 1º período letivo foi um choque, do qual só recentemente recuperei.
O meu filho, que além de ser condicional é muito imaturo, não foi ainda este ano para o 1º ano, mas mudou para uma escola nova, onde vai seguir para o básico. Saiu de um pequeno colégio familiar, onde estava desde os 9 meses, para uma escola pública enorme. Por isso não é difícil perceber o porquê do meu choque, que aliás se deu logo no segundo dia de aulas, quando tive um pequeno confronto com a professora da criança. Foi um mau começo que se alastrou por algumas semanas, até conseguirmos esclarecer tudo pessoalmente (o que foi difícil dada a pouca disponibilidade da professora).
Mas agora, três meses volvidos desde o início desta nova aventura, posso dizer que o Papão da escola pública já não me mete medo. Percebi que, apesar da grande dimensão da escola, todas as crianças são conhecidas pelo seu nome, havendo carinho no trato por parte do pessoal. Não obstante alguma desorganização e falta de meios, tudo se faz, e a oferta educativa não deixa muito a desejar. Aprendi a aceitar o que não posso mudar e a confiar no que não conheço, acreditando que a diversidade de experiências e métodos só pode trazer benefícios para a autonomia e flexibilidade do meu filho.
Quanto a este, está integrado desde o primeiro dia! Para ele todas as novidades foram boas. Gosta da escola gigante, do recreio dos crescidos, dos amigos, da professora e dos auxiliares. Apesar das muitas saudades dos "antigos" amigos , está mais esperto, desenvencilhado e, acima de tudo, está muito feliz. O que mais pode uma mãe pedir?
N.

14/01/2016

Crescer

Crescer é difícil, o que é uma chatice, uma vez que é algo que nos acontece do início ao fim da vida. Todos os dias somos obrigados a crescer, aprendendo coisas novas, encarando  medos, ultrapassando dificuldades, reinventando-nos.
Crescer é difícil quando somos pequenos e temos que aprender a linguagem dos adultos e mais ainda quando eles não entendem a nossa. Quando nos impingem regras e mais regras, em casa e na escola. Quando nos obrigam a experimentar coisas novas, sejam elas couves de Bruxelas ou um desporto.
Crescer é difícil tendo de aprender desde cedo que nem todos os colegas são amigos, uns só querem os nossos cromos e outros gozam connosco porque usamos óculos ou aparelho nos dentes.
Crescer é difícil quando só pensamos em ir curtir com os amigos e temos um manual inteiro para memorizar.
Crescer é difícil quando temos de optar entre um curso que gostamos muito mas não tem saída profissional e um curso que não nos diz nada mas que tem empregabilidade.
Crescer é difícil na escolha entre viajar ou ter filhos, casar ou apenas permanecer junto, adiando gastos... e sonhos.

Crescer é difícil nas coisas mais rotineiras e também nas novidades. Quando acumulamos o cansaço do que já nos pesa há demasiado tempo e quando temos de improvisar uma maneira de tornar tudo mais leve ou, pelo menos, exequível.
Crescer é difícil quando temos de gerir uma casa e um orçamento familiar, coordenar horários pessoais com profissionais, lembrar de descongelar jantar e não esquecer de preparar aquele contrato tão importante, utilizar a hora de almoço para ir ao supermercado e passar pela costureira antes de ir buscar as crianças à escola.
Crescer é difícil quando temos de decidir entre marcar aquele fim-de-semana a dois, que estamos tanto a precisar, ou ficar para levar o filho à festa do melhor amigo. Quando temos de pesar a balança entre o casaco que andamos há meses a namorar e os ténis que o miúdo está mesmo a precisar.
Crescer é difícil quando temos de abandonar a segurança do que nos é familiar e confortável e arriscar numa situação nova, começar do zero e sem garantias de sucesso.
Crescer é difícil quando temos noites e noites de privação de sono por causa dos filhos e, ainda assim, temos de estar alertas e conscientes para as suas necessidades.
Crescer é difícil quando olhamos para as fotografias do nosso bebé e nos apercebemos que já lá vão 6 anos, passados num abrir e fechar de olhos.
Crescer é difícil quando aceitamos que precisamos de ajuda porque não conseguimos fazer mais do que já fazemos.

Crescer é difícil mas compensa. É uma vitória contra nós mesmos.

N.

10/01/2016

Fim de semana de caquinha!




Há aqueles dias em que acordamos com nuvens na cabeça. Aconteceu-me este fim‑de‑semana.
Vamos por pontos, para poderem escolher qual foi a nuvem maior:

- Na sexta à noite deito-me com uma dor de garganta que tinha o milagre da multiplicação e que fez o favor de estender a agonia a todo o corpo.
Acordo de madrugada com dores insuportáveis.
Tenho a peculiaridade de ficar maldisposta e de vomitar quando tenho dores, portanto poupo-vos aos pormenores porque já sabem o que aconteceu.

- Tive frio durante todo o dia. Andei de pijama, polar, cobertor e aquecimento central. O meu marido estava de t-shirt. Acho que ele deve estar doente mas só ao final da tarde é que percebo que estou com febre. Sou capaz de cheirar a febre dos meus filhos (literalmente) mas demoro 11 horas para perceber a minha. Smart girl!

- Vou de urgência para o Osteopata. Levo uma tareia de 2 horas. Diagnóstico: uma vértebra deslocada, um desnível de 5 mm na perna direita, o que significa que tenho de usar uma palmilha de compensação no pé direito (sexy, hein?!), o fígado está gordo (!!!) pelo que tenho de fazer um detox e, por fim, muita tensão e stresse acumulado.

- A dor insuportável nas costas passou (já só estou altamente dorida) mas a da garganta não.
Então no domingo de manhã vou às urgências. Diagnóstico: amigdalite muito avançada, quase a fazer um abcesso. Não vale a pena tomar antibiótico, vai ter mesmo de ser uma injeção de penicilina. Claro que sim!! (Digo eu, que da última vez que tomei uma fiquei com a perna presa e sem me conseguir sentar durante 2 dias). Não tive hipótese...rabo ao léu e pumba!
Desta vez correu bem (valha-me isso). Mas na quarta-feira há mais...

- Para rematar: o meu filho diz-me que viu uma imagem de um menino que parecia estar grávido, tinha um bebé na barriga. Explico-lhe prontamente que há países em guerra, que há meninos que passam fome...
Ele olha com um ar assustado para mim e diz-me: "mas mãe, o bebé estava fora da barriga do menino. Ele estava a segurá-lo em cima da sua barriga". Afinal ele tinha visto uma imagem fofinha e ternurenta. E eu espetei-lhe com a dura realidade do nosso mundo que é para ele abrir a pestana.
Nada melhor do que um pequeno trauma para acabar o fim‑de‑semana!

E amanhã é segunda-feira!!! Yupiiiiii!!!!!

Rita