12/05/2016

Mães que arriscam, filhos que petiscam

No outro dia, estava com o meu filho e marido a passear na praia quando começou a chuviscar. O meu marido apressou logo o passo para irmos para o carro e, daí a pouco, quando a chuva começou a engrossar, já ele gritava para que corrêssemos. Só que eu não corri.
Estava um daqueles finais de tarde bonitos, com um sol ainda forte e morno, e aquela chuva quase inusitada estava a saber-me estranhamente bem. Então, em vez de correr, parei e fiquei a sentir as gotas a cair na minha cara, quase numa dança da chuva.
O meu filho, ao ver-me ficar para trás, estancou e quis correr para mim, mas o meu marido já o puxava para chegarem mais rapidamente ao carro. Então, disse-lhe que o deixasse estar.

Pensam vocês "mas que mãe deixa o filho apanhar uma molha? Que inconsciente, deve estar a ver se o miúdo fica doente".

Bem, em minha defesa posso dizer que não sou inconsciente. Efetivamente, foi a tomada de consciência de que o meu filho, aos 6 anos, nunca tinha sentido a chuva cair em cima de si, de forma livre e intencional, que me impeliu a deixá-lo ter essa experiência (isso e conhecer bem o sistema imunitário do meu rebento).
Quantos de vocês já se permitiram olhar para o céu e sentir as gotas fortes de chuva molharem-vos o rosto, escorrendo como se tivessem vindo de um mergulho no mar? Sentir o couro cabeludo arrepiar-se, as roupas começarem a ficar mais pesadas, como se, de repente, nós já não tivéssemos peso, apenas o que nos envolve? E dançar à chuva? Rodopiar, saltar, beber dessa liberdade de não ter que fugir nem agarrar guarda-chuvas ou outros pertences. Só nós e a força da natureza...é muito bom!
O meu filho também gostou e fomos no carro a rir-nos, porque parecíamos uns gatos pingados (e não nos constipámos!).

Aqui há uns tempos, revia um álbum da minha infância quando tive outra consciencialização deste tipo. Numa fotografia, eu estava pendurada num tronco de uma árvore, de cabeça para baixo. E foi aí que me apercebi que o meu filho, provavelmente, nem sabia trepar a uma árvore. Mas que raio de infância é esta em que os miúdos não experimentam o que os rodeia?! É quase o B-A-BA de ser criança! Subir, escorregar, cair. Tentar ir pelo outro lado, alcançar um galho mais alto ou ficarmo-nos por um baixinho, mas pendurarmo-nos nele como se fossemos macaquinhos. Tão divertido!

Hoje em dia, com a informação assustadora que nos chega a toda a hora e o pouco tempo que temos para arriscar em atividades que podem dar para o torto, temos medo de tudo e acabamos por colocar os nossos filhos em redomas que julgamos torná-los seguros, mas na verdade estamos apenas a impedir que aprendam com os próprios erros, que experimentem, que sintam a responsabilidade de arriscar.
Claro que é muito menos stressante mantê-los a 50 cm de nós, fechados dentro da cerca do parque ou bem coladinhos ao chão porque daí não passam. Mas o que lhe estamos a ensinar? Do que os estamos a privar, que medos e limitações lhes estamos a incutir?

Proteger os filhos é também permitir que eles errem e se magoem, pois só assim eles poderão aprender a levantar-se sozinhos e a fazer melhor na próxima tentativa.

N.

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