25/08/2016

A ti, Mãe

A ti que não vais ao cinema ver um filme para maiores de 18 anos, desde o tempo em que não sabias o que era um esterilizador de biberões.

A ti que já nem sabes qual é o canal da séries - na verdade já nem sabes que séries ainda dão - pois a tua televisão está praticamente limitada ao Disney Chanel, Nickelodeon, Panda e Cartoon Network.

A ti que ouves os escárnios da tua sogra sobre a alimentação que dás ao teu filho, e aguentas estoicamente sem sequer lhe revirar os olhos.

A ti que ficas 3 horas à seca numa festa infantil, a ensurdecer com os gritos histéricos das criancinhas, a estremecer a cada estoiro de balão e a gramar conversas e suspiros de mães que quase desfalecem a cada salto do filho no insuflável.

A ti que não sabes o que é dormir até mais tarde, que esgotaste o teu repertório de truques para fazer o teu filho acordar a horas nos dias de escola, mas que te vês acordada pela pequena criatura às 7h de sábado para ir ver bonecos animados na televisão.

A ti que conheces todos os MacDonalds do teu concelho e arredores, e que achas que as Docas ainda são o sítio mais badalado da noite.

A ti que já não tens desculpas para justificar os consecutivos atrasos ao trabalho de manhã porque o miúdo não quer ficar na escola, as saídas mais cedo para a consulta de desenvolvimento dos 2 anos e 3 meses, e a hora de almoço mais demorada para ires ao El Corte Inglés procurar aquela mochila que a tua filha quer tanto e que não há em mais lado nenhum.

A ti que ignoras que as calças de cintura descaída já estão fora de moda mas que sabes onde encontrar ténis com rodinhas e luzes psicadélicas, e já conheces todos os bonecos dos Invizimals.

A ti que não tens tempo para ir ao ginásio, mas que ao final de uma hora a tomar conta dos teus filhos estás mais cansada do que uma manhã de treino intensivo.

A ti, Mãe que passas por tudo isto e mais um par de botas, um apertado abraço aqui desta tua homónima solidária que te vê e te compreende.

N.


03/08/2016

Acampar com crianças nas férias

Se aqui há uns três anos me falassem em acampar, isso seria coisa para me deixar de cabelos em pé e ar de mete nojo.
Mas a vida dá muitas voltas e, às vezes, deixa-nos de cabeça para baixo, obrigando-nos a fazer ajustes à nossa realidade. Para uma família, como nós, viciada em viagens, cuja noção de férias envolvia sempre pelo menos 2 aviões e hotéis de 4 estrelas, começar a acampar foi uma opção que envolveu algum trabalho mental e também algum investimento de tempo e dinheiro para nos prepararmos para esta realidade, da qual pouco ou nada sabíamos, e da qual tinhamos alguns preconceitos.
As (poucas) experiências de campismo em Portugal tinham sido traumáticas, mas já tínhamos ouvido dizer que em Espanha, França, Alemanha, os parques de campismo eram fenomenais. Então, no ano passado, lá arriscámos numa viagem aos Picos de Europa, em Espanha, com regresso pela costa norte das Asturias à Galiza e foi espetacular!

De facto, os parques de campismo são "outro campeonato" no que toca às comodidades, limpeza, acessibilidade e simpatia dos funcionários e mesmo dos outros hóspedes.
Depois da estranheza inicial, e de nos adaptarmos aos sons e rotinas (cozinhar sem ser na nossa cozinha, tomar banho em casas de banho partilhadas, ouvir os sons das árvores, dos grilos quando estamos na tenda...), a coisa acaba por se entranhar de uma forma quase viciante.
Foi uma experiência de duas semanas que adorámos e que prometemos repetir.
Este ano o destino escolhido foi França, e se me perguntarem "também em campismo?", a minha resposta é um entusiasmado e eufórico "claro que sim!".
Sobretudo para quem tenha crianças, acampar traz inúmeros benefícios, das quais saliento os seguintes:
- A autonomia. O ambiente do camping é bastante controlado e, sobretudo, frequentado por famílias que cuidam umas das outras. As crianças têm oportunidade de andar mais livremente pelo espaço, sem necessidade de constante super visionamento. Damos-lhes pequenos recados como ir comprar o pão, ir aos lava-loiças lavar um copo, e algumas liberdades como ir à casa de banho sozinhos ou ir para o parque infantil durante 30 minutos, permitindo-lhes assim maior autonomia;
- A sociabilização. Há crianças de várias nacionalidades e, entre os vizinhos das tendas em redor, o parque infantil ou a piscina, fazem-se sempre muitas amizades, provando que a língua não é uma limitação;
- Aprender a apreciar e respeitar a natureza. Para crianças de cidade é sempre uma excitação dormir, brincar, comer e descansar ao ar livre. Cedo perdem os medos dos sons da natureza e aprendem a gostar dos bichinhos, dos pés descalços na relva e de poder andar descontraídos todo o dia. Além disso, o ecoturismo pressupõe que deixemos sempre o espaço que ocupámos como o encontrámos, ensinando assim sobre a importância da ecologia.
São experiências inesquecíveis para as crianças e para nós, pais, que vibramos ao vê-los tão felizes.
Além disso, o campismo é algo que nos oferece tempo. Sem horários, tudo é feito ao nosso ritmo, calma e descontraidamente.

A viagem deste ano pretendia percorrer a costa Basca, subindo depois pela Bretanha até à Normandia. Um imprevisto com o carro impediu-nos de seguir os planos iniciais, fazendo-nos descer da Costa Basca para os Pirinéus, de modo a reduzirmos o número de quilómetros.
O parque de campismo em que estivemos na Costa Basca, perto de Biarritz, era pequeno mas amoroso, super verde e com parcelas espaçosas. Cada família tem direito a 80m2 de relvado para dispor a sua tenda e carro ou autocaravana. Havia uma piscina exterior aquecida, uma piscina infantil (também aquecida) e um spa. Um parque infantil enorme com um mega trampolim, um restaurante, um bar e um kids club que mantinha as crianças entretidas toda a manhã. Havia um lago onde se podia fazer piqueniques e andar de bicicleta ao redor.


Os WC eram impecavelmente limpos, sempre com papel higiénico macio e até gel de álcool para desinfectar. Os duches eram de tamanho familiar, super espaçosos e práticos.
O silêncio era imperioso a partir das 22h30, e começavam a ouvir-se gargalhadas e a cheirar a café às 9h. Houve trocas de bolachas, oferta de gasosas e sempre um vizinho a deitar um olho aos miúdos.
Houve, definitivamente, a vontade de ficar mais tempo, mas queríamos conhecer mais lugares, então seguimos para os Pirinéus, onde ficámos num camping num vale lindíssimo, com instalações de luxo (por exemplo os WC eram mais bonitos do que os de muitos hotéis de 4 e 5 estrelas onde já estive), 5 piscinas exteriores aquecidas e escorregas aquáticos. Foi a loucura!


Daí aventurámo-nos para passeios nas montanhas, com trilhos de mais de 2h junto a rios e cascatas e direito a andar de teleférico, de tele-cadeirinhas e ainda a descer 800 metros de montanha num tobogan sobre carris. Vimos a cascata mais alta de França, estivemos num dos picos mais altos dos Pirinéus, e fizemos piqueniques em locais de cortar a respiração. Estivemos num parque animal onde os animais estão sem semi-liberdade e onde pudemos alimentar e dar festinhas a marmotas, a imagem de marca da região. À noite ouvíamos os lobos a uivar ao longe, e acordávamos com coelhinhos à beira da tenda.

Foi muito, muito bom! Uma experiência enriquecedora e de crescimento em tantos sentidos, para cada um de nós, deixando-nos cheios de recordações que ficarão para sempre na nossa memória.
E claro, já estamos a planear a próxima viagem!

N.