29/09/2015

Sobre os Planos

O dia em que nasceu o meu filho foi o dia mais infeliz da minha vida. De nada me valeu o curso de preparação para o parto, o yoga para grávidas nem a carrada de literatura sobre a gravidez, o plano de nascimento, a amamentação e os cuidados com um recém-nascido. Nada me preparou para o dia em que, estando eu entre a vida e a morte, me arrancaram o meu filho de dentro de mim. Num dia estava feliz a fazer a árvore de natal com o meu marido, e uns dias mais tarde estava sozinha e apavorada num bloco de partos (poupo-vos os detalhes mórbidos de todo o processo).
Não vi o meu filho nascer, não lhe ouvi o choro, não lhe pude tocar, embalar ou amamentar. Quando, finalmente, o pude ir conhecer, ele já tinha 5 dias e não era o bebé lindo que eu tinha sonhado. Era pouco diferente de um ratinho, com a cabeça ainda disforme, sem cabelo nem pestanas e só com uma fina penugem que lhe cobria o corpo de 27 cm. Nascido às 30 semanas de gestação, o meu filho tinha o peso de um pacote de leite e eu não podia mexer-lhe, sentir o cheirinho, nem sequer mudar-lhe a fralda.
Duas semanas depois, tive alta mas voltei para casa de mãos a abanar, para um lindo quarto de bebé vazio. Todos os dias ia ver o meu filho, só que tinha horas e tempo limitado para lhe pegar. Não foi como tinha imaginado. Quando o trouxe para casa, ele tinha um mês e meio, mas continuava a ser um
bebé minúsculo e nada era como vinha nos manuais ou nas histórias e discursos que sempre
tinha ouvido. Foi muito diferente, muito duro, mas acabou por ser a minha história de sucesso. Aprendi a confiar nos planos de Deus.

Entretanto o meu filho cresceu e tem, hoje, quase 6 anos. É um miúdo saudável, giraço e a pessoa que mais amo nesta vida. No entanto, continua a não ser a criança descrita nos lindos textos sobre a maternidade. Sem colocar em causa o seu amor por mim, não é o menino carinhoso e protetor da mãe como costumam dizer que os rapazes são. Os seus gostos e aptidões nada se parecem com os nossos, e o seu comportamento nem sempre espelha a educação que lhe damos em casa, o que me leva, muitas vezes, a duvidar do meu trabalho e eficiência como mãe. Sei que faço e dou o meu melhor, mas não raras vezes me questiono. Será suficiente? Será o correto?
E, mais uma vez, a vida mostra-me que não vale a pena fazer planos, e eu aprendo que tenho de respeitar a individualidade do meu filho como respeito a de qualquer outra pessoa. Que não vale a pena sonhar com o que os filhos serão ou farão, mas abrir bem os olhos para ver o que eles realmente são e fazem, neste momento, no aqui e agora. Olhá-los e vê-los como o milagre que nos aconteceu. Como o nosso melhor caso de sucesso, porque seja qual for o final da história, aquilo que já ganhámos ninguém nos tira.


N.

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