18/01/2016

4 testemunhos de "Como sobreviver ao primeiro período letivo sem manual de instruções"

#1
Se a entrada dos nossos filhos na escola nos deixa com lágrimas de emoção nos olhos, os três meses que se seguem podem ser de verdadeiro pesadelo. Ninguém nos avisa, mas o primeiro período é semelhante a uma praxe académica. Escapei orgulhosamente a esta, mas já não fui a tempo de fugir da entrada da pequena criatura no 1º ano do resto da sua vida. Ups, acho que não podia! Livros já lhes perdi a conta, fichas mais do que muitas, os famosos T.P.C. voltaram à minha existência e os horários madrugadores também. Só as disciplinas nucleares chegam para nos dar dores de cabeça e são apenas três: Português, Matemática e Estudo do Meio, misturado com Artes Plásticas, Ginástica, Música, Filosofia, Inglês e Teatro, esta por opção da criança.
Já não aguento a canção da Maria Vasconcelos sobre os ditongos, mas muito obrigada por a ter composto, as vogais, as consoantes e os números até dez chegados em contas encavalitadas em cubos ou artimanhas estranhas, alheias a outros tempos. A exigência é tão grande, a pressão dos testes e avaliações enormes, que a sensação que tenho é que eu e a minha filha fomos atropeladas por um camião que não deu sinal de que se aproximava. Bom, talvez esta seja apenas uma sensação minha, porque apesar de cansada e nem sempre desejosa de se sentar a estudar, a minha descendente parece estar no bom caminho e, com apenas 6 anos, aguentou ter dois testes difíceis na mesma semana mais todos os outros. Quanto à avaliação: sou uma mãe exigente, sim, mas muito orgulhosa. Venham de lá a leitura e as contas depois do dez... Afinal, só faltam 14 anos para terminar a licenciatura!
C.


#2
E, assim do nada, dou por mim no início do 2º período letivo da cria. Olhando para dentro de mim notei que me sinto especialmente grata pelas ajudas que tivemos, tanto das minhas queridas amigas como do próprio colégio, que percebeu que a Inês é muito sensível, e que tem algumas questões de saúde.
E de todos os lados fomos acolhidas. A Nês teve uma grande vantagem: a empatia com a professora, que foi imediata. E confesso que comigo foi igual - tão doce a professora Vera...
Ajudou, essencialmente, nas questões emocionais da Nês, uma vez que foi uma grande mudança, saiu do ninho e foi lançada aos tigres. Uma escola muito maior, mais crianças e ela pouco preparada pelo anterior colégio para muitas coisas, que hoje eu sei serem banais, mas para ela foi tudo novo.
Mas juntas vencemos mais uma batalha. A nível escolar a Nês não teve problema nenhum de adaptação, e sempre a senti confortável na sala de aula com a aprendizagem do dia-a-dia.
Filha, estarei sempre à frente, atrás e ao teu lado. Continuemos a caminhar nesta jornada escolar!
 X.



#3
Diz que "Em casa de ferreiro, espeto de pau" e, ao que parece, confere, pelo menos às vezes.
Sou psicóloga de formação e, por algumas vezes, dei pareceres negativos para entradas precoces no 1º ciclo. Porque as crianças têm que brincar, porque têm que crescer com tempo, porque têm que ganhar maturidade com tranquilidade, porque têm o direito de não serem empurradas para o mundo dos crescidos, das notas, da competição e para um novo mundo que é de uma exigência estúpida e desmedida, que é como quem diz o nosso 1º ciclo (um grande bem haja ao nosso sistema educativo).
Bom, avante... O Afonso é condicional, faz anos em Novembro, o que significaria que entraria no 1º ano ainda com 5 anos. No último ano do pré-escolar ficou desde cedo presente a minha dúvida na sua transição para o 1º ciclo. Vai ou fica e repete os 5 anos?
A verdade é que o Afonso cresceu imenso neste último ano (também levou um apertão, é verdade. Mimadão, precisou de levar uma dose jeitosa de autonomia e trabalhámos a sua resistência à frustração). Com o apoio do colégio fomos seguindo a evolução e, a meio do ano, era clara a recomendação da Educadora e Psicóloga da escola: o Afonso está preparado para o 1º ciclo. Eu só fiquei convencida lá mais para o final do ano. O meu receio era que não fosse capaz de resistir às frustrações naturais que se adivinhavam, que se aborrecesse com a repetição das letras e números, que tivesse dificuldade em socializar com os novos amigos (porque mudaria de colégio).
Como é evidente, sou uma mente simples e despreocupada...
Bom....escolhemos o colégio de acordo com o que era mais importante para nós: que fosse acolhedor, que envolvesse os pais, que tratasse as crianças como crianças e que funcionasse como uma família. Encontrámos. O Afonso adorou o período de adaptação e fez amigos rapidamente.
A primeira semana de aulas foi, no entanto, difícil. Ele vinha altamente cansado e, sobretudo, vinha completamente baralhado com todas as novas variáveis que encontrou: menos tempo para brincar, mais regras, maior autonomia, meninos mais crescidos que às vezes fazem questão de mostrar que são mais crescidos, expressões novas (bué, ya, fosga-se,...), asneiras novas (estas vou passar), amigos que são amigos mas que são diferentes dos anteriores...
Tive muita calma para o amparar nesta fase. E outras vezes houve em que não tive calma nenhuma e desatei aos gritos (percebem a questão do "em casa de ferreiro...."?).
Depois dessa semana lá encaixou a nova rotina: os horários mais agressivos (deitar mais cedo e levantar mais cedo), os trabalhos de casa diários (uma estupidez, mas enfim...), o facto de ter menos tempo para brincar.
Feitas as contas: nota máxima para o Afonso que conseguiu chegar ao final do 1º período a saber ler e escrever (deixou de haver montra ou letreiro que passe despercebido pela criança); fez amigos de verdade, alguns já especiais; teve excelentes notas e, por fim (e mais importante que tudo), gosta da escola e entra todos os dias (ou quase todos vá) bem disposto e satisfeito.
Já a mãezinha... teve uma adaptação mais difícil: tem muitas saudades do colégio antigo (neste ainda não me sinto "em casa"), fez poucos amigos (tenho muitas saudades dos meus amigos do ano passado) e, embora esteja adaptada às rotinas novas, sente saudades das antigas (conversetas à entrada e saída do colégio, um cafézinho aqui, outro acolá). Feitas as contas: passei à rasquinha.
R.


#4
Para mim, o 1º período letivo foi um choque, do qual só recentemente recuperei.
O meu filho, que além de ser condicional é muito imaturo, não foi ainda este ano para o 1º ano, mas mudou para uma escola nova, onde vai seguir para o básico. Saiu de um pequeno colégio familiar, onde estava desde os 9 meses, para uma escola pública enorme. Por isso não é difícil perceber o porquê do meu choque, que aliás se deu logo no segundo dia de aulas, quando tive um pequeno confronto com a professora da criança. Foi um mau começo que se alastrou por algumas semanas, até conseguirmos esclarecer tudo pessoalmente (o que foi difícil dada a pouca disponibilidade da professora).
Mas agora, três meses volvidos desde o início desta nova aventura, posso dizer que o Papão da escola pública já não me mete medo. Percebi que, apesar da grande dimensão da escola, todas as crianças são conhecidas pelo seu nome, havendo carinho no trato por parte do pessoal. Não obstante alguma desorganização e falta de meios, tudo se faz, e a oferta educativa não deixa muito a desejar. Aprendi a aceitar o que não posso mudar e a confiar no que não conheço, acreditando que a diversidade de experiências e métodos só pode trazer benefícios para a autonomia e flexibilidade do meu filho.
Quanto a este, está integrado desde o primeiro dia! Para ele todas as novidades foram boas. Gosta da escola gigante, do recreio dos crescidos, dos amigos, da professora e dos auxiliares. Apesar das muitas saudades dos "antigos" amigos , está mais esperto, desenvencilhado e, acima de tudo, está muito feliz. O que mais pode uma mãe pedir?
N.

14/01/2016

Crescer

Crescer é difícil, o que é uma chatice, uma vez que é algo que nos acontece do início ao fim da vida. Todos os dias somos obrigados a crescer, aprendendo coisas novas, encarando  medos, ultrapassando dificuldades, reinventando-nos.
Crescer é difícil quando somos pequenos e temos que aprender a linguagem dos adultos e mais ainda quando eles não entendem a nossa. Quando nos impingem regras e mais regras, em casa e na escola. Quando nos obrigam a experimentar coisas novas, sejam elas couves de Bruxelas ou um desporto.
Crescer é difícil tendo de aprender desde cedo que nem todos os colegas são amigos, uns só querem os nossos cromos e outros gozam connosco porque usamos óculos ou aparelho nos dentes.
Crescer é difícil quando só pensamos em ir curtir com os amigos e temos um manual inteiro para memorizar.
Crescer é difícil quando temos de optar entre um curso que gostamos muito mas não tem saída profissional e um curso que não nos diz nada mas que tem empregabilidade.
Crescer é difícil na escolha entre viajar ou ter filhos, casar ou apenas permanecer junto, adiando gastos... e sonhos.

Crescer é difícil nas coisas mais rotineiras e também nas novidades. Quando acumulamos o cansaço do que já nos pesa há demasiado tempo e quando temos de improvisar uma maneira de tornar tudo mais leve ou, pelo menos, exequível.
Crescer é difícil quando temos de gerir uma casa e um orçamento familiar, coordenar horários pessoais com profissionais, lembrar de descongelar jantar e não esquecer de preparar aquele contrato tão importante, utilizar a hora de almoço para ir ao supermercado e passar pela costureira antes de ir buscar as crianças à escola.
Crescer é difícil quando temos de decidir entre marcar aquele fim-de-semana a dois, que estamos tanto a precisar, ou ficar para levar o filho à festa do melhor amigo. Quando temos de pesar a balança entre o casaco que andamos há meses a namorar e os ténis que o miúdo está mesmo a precisar.
Crescer é difícil quando temos de abandonar a segurança do que nos é familiar e confortável e arriscar numa situação nova, começar do zero e sem garantias de sucesso.
Crescer é difícil quando temos noites e noites de privação de sono por causa dos filhos e, ainda assim, temos de estar alertas e conscientes para as suas necessidades.
Crescer é difícil quando olhamos para as fotografias do nosso bebé e nos apercebemos que já lá vão 6 anos, passados num abrir e fechar de olhos.
Crescer é difícil quando aceitamos que precisamos de ajuda porque não conseguimos fazer mais do que já fazemos.

Crescer é difícil mas compensa. É uma vitória contra nós mesmos.

N.

10/01/2016

Fim de semana de caquinha!




Há aqueles dias em que acordamos com nuvens na cabeça. Aconteceu-me este fim‑de‑semana.
Vamos por pontos, para poderem escolher qual foi a nuvem maior:

- Na sexta à noite deito-me com uma dor de garganta que tinha o milagre da multiplicação e que fez o favor de estender a agonia a todo o corpo.
Acordo de madrugada com dores insuportáveis.
Tenho a peculiaridade de ficar maldisposta e de vomitar quando tenho dores, portanto poupo-vos aos pormenores porque já sabem o que aconteceu.

- Tive frio durante todo o dia. Andei de pijama, polar, cobertor e aquecimento central. O meu marido estava de t-shirt. Acho que ele deve estar doente mas só ao final da tarde é que percebo que estou com febre. Sou capaz de cheirar a febre dos meus filhos (literalmente) mas demoro 11 horas para perceber a minha. Smart girl!

- Vou de urgência para o Osteopata. Levo uma tareia de 2 horas. Diagnóstico: uma vértebra deslocada, um desnível de 5 mm na perna direita, o que significa que tenho de usar uma palmilha de compensação no pé direito (sexy, hein?!), o fígado está gordo (!!!) pelo que tenho de fazer um detox e, por fim, muita tensão e stresse acumulado.

- A dor insuportável nas costas passou (já só estou altamente dorida) mas a da garganta não.
Então no domingo de manhã vou às urgências. Diagnóstico: amigdalite muito avançada, quase a fazer um abcesso. Não vale a pena tomar antibiótico, vai ter mesmo de ser uma injeção de penicilina. Claro que sim!! (Digo eu, que da última vez que tomei uma fiquei com a perna presa e sem me conseguir sentar durante 2 dias). Não tive hipótese...rabo ao léu e pumba!
Desta vez correu bem (valha-me isso). Mas na quarta-feira há mais...

- Para rematar: o meu filho diz-me que viu uma imagem de um menino que parecia estar grávido, tinha um bebé na barriga. Explico-lhe prontamente que há países em guerra, que há meninos que passam fome...
Ele olha com um ar assustado para mim e diz-me: "mas mãe, o bebé estava fora da barriga do menino. Ele estava a segurá-lo em cima da sua barriga". Afinal ele tinha visto uma imagem fofinha e ternurenta. E eu espetei-lhe com a dura realidade do nosso mundo que é para ele abrir a pestana.
Nada melhor do que um pequeno trauma para acabar o fim‑de‑semana!

E amanhã é segunda-feira!!! Yupiiiiii!!!!!

Rita