15/10/2015

Bullying aos 6 anos? Sim, existe.

 No dia em que a minha filha se mudou para a nova escola ia nervosa e cheia de medo. Desde os 2 anos que estava num colégio pequeno, que funcionava como uma segunda família, onde desde a cozinheira às diretoras, toda a gente sabia o nome dela e conhecia a sua timidez perante crianças, e extroversão num mundo de adultos, talvez motivadas por ser filha única, a mais pequena no universo familiar, no qual uns já tiveram filhos há muito, e outros ainda não os começaram a ter. Durante quatro anos, foi feliz ali e eu tinha a certeza de que todos olhavam por ela e intervinham se necessário.

A mudança para outra escola foi assunto debatido até à exaustão. Pública ou privada, pequena ou grande, como seria a nova escola e o 1º ciclo? Como é que ela iria sobreviver quando fosse “atirada aos lobos”, porque até, então, vivia numa redoma. A opção recaiu numa escola privada de renome, com provas dadas, turmas pequenas, matriz cristã, ensino abrangente. Quem lá andou, ficou com as melhores recordações, uns até com amigos para a vida. Uma antiga colega do jardim de infância tinha entrado no ano anterior e as referências eram excelentes. Achei que era ali que podia crescer, desde a primeira vez que a fui visitar, e ficou.
No primeiro dia, ia formosa e não segura, mas saiu aliviada. “Já não estou nervosa. Gostei da nova escola”, disse-me quando se sentou na cadeira do carro. E, de repente, as lágrimas teimavam em cair dos meus olhos, num misto de felicidade e alívio. Mas nada disto durou muito tempo. As lágrimas de alegria são, hoje, de profunda tristeza, angústia. Sinto-me perdida e sem saber exatamente o que fazer, mas com a certeza de que vou agir e rápido.
Está tudo a correr bem com as disciplinas. Adora aprender, tem enorme facilidade em fazê-lo, é uma verdadeira “esponjinha” observadora, opinativa e expressiva. Herança genética.
Também não tem nada que a distinga fisicamente dos outros. Magra, estatura média, gira (pronto, eu sou a mãe e, portanto, suspeita). Mas é frágil. A timidez leva-a sempre a baixar os olhos para se resguardar, e a ficar sozinha quando não se sente à vontade. Nunca se queixa. Nada que já não soubesse. Por isso, fiz questão de avisar a professora e uma das psicólogas do colégio logo quando entrou. Estariam atentas, mas o processo de mudança estava a correr muito bem, asseguraram. Até se dar o embate com a líder das raparigas da turma. São seis meninas para dez rapazes, poucas para poder haver escolha. Nesta altura, a segmentação por sexo é notória e não tem muitas colegas pelas quais possa optar. Na realidade, nem se identifica com nenhuma. Gosta, sim, das colegas da outra turma para a qual não ma deixaram transferir quando as aulas ainda estavam no início, apesar dos meus apelos e das vagas notórias.
Mas voltemos à pequena bulldozer. Nos primeiros dias de aulas, a C. destacou-se logo pela sua simpatia. Deu com o casaco em cima da minha filha, com tal delicadeza que ela chegou com ferida na cara e nariz. Desvalorizei. Todas as crianças passam por estas fases e a menina tinha uma notória necessidade de marcar terreno. Iria passar, julguei, até porque tinha escolhido outros alvos para expandir a sua energia exagerada. Porém, os episódios foram-se repetindo. Idiota, parva e brincadeiras com o nome são só meros e suaves exemplos do que esta criatura loira e abrutalhada já disse à minha pequena criatura, em apenas um mês e pouco. Também lhe tentou “roubar” a amiga que a L. fez na outra sala e está sempre a incitar as outras a gozarem. Um verdadeiro primor de educação.
O requinte é tal que ela sabe exatamente quando o pode fazer: sempre que não há adultos por
perto, ou seja, quando a professora sai da sala por algum motivo, no recreio sem que as auxiliares vejam, no refeitório quando não há adultos por perto.
A minha filha está farta. Sente-se gozada e humilhada e di-lo a mim com todas as letras. Revela enorme ansiedade traduzida na borracha e lápis todos roídos, quase comidos, na forma como só fala na colega durante horas e range os dentes a dormir de segunda a sexta. Eu, mãe assumidamente galinha e protetora da sua cria, tive várias vezes para agarrar no braço da “doce menina” e sussurrar-lhe que se volta a fazer mal à minha filha vai ter de conversar comigo. Não sou para brincadeiras e ela vai perceber isso.
A C. tem 6 anos e desafia todos os limites. Até a forma como olha para nós, pais, é a de quem está disposta a comprar uma guerra. Nessa altura, inspiro, expiro e quase piro, mas faço o politicamente correto: falo com a professora, uma, duas, três vezes. As conversas entre elas claramente não surtem efeito, por mais que me digam que prometeu não voltar a fazer. Na verdade, no dia seguinte, tudo se passa da mesma forma.

Segue-se reunião esta semana. Não serei branda, não deixarei que magoem a minha menina, a pequena rufia não ficará impune. É tudo o que consigo dizer, depois de ter perdido conta das vezes que chorei nos últimos tempos, do quanto me revoltei. Tenho medo, tanto como a minha filha, mas estou cá para lutar por ela e fazê-la lutar pelos seus próprios meios. A C. não ficará impune. Não pode.
E, sim, isto passa-se, num escola privada com pergaminhos, onde todos se julgam de uma certa elite.


 
Carla

2 comentários:

  1. Força, ainda não cheguei a essa fase, mas até tremo só de pensar. vai correr tudo bem. beijinho

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  2. Olá! Fiquei emocionada com o seu texto, pois, também tenho um pequeno que irá para a primária para o ano.
    Espero que já tenha por esta altura solucionado o problema. Caso contrario, sou da opinião que deve ponderar tirar a sua menina desse sítio, pois, as sequelas emocionais e a autoestima em construção nesta fase demoram muito mais a recuperar do que as Letras e as Contas. Julgo que ao expor a situação também estará a ajudar a "rufia" , pois, claramente essa menina tem sérios problemas de carácter e de educação, que podem ser corrigidos se os pais (dela) e a escola agirem nesse sentido.

    Gostava de lhe perguntar se me pode indicar o nome da escola por mail privado ( anakaty27@gmail.com). Temos tendência a pensar que a escola privada é melhor mas, depois, nem sempre é assim e ultimamente interrogo-me se valerá a pena fazer um esforço financeiro tão grande. É tão difícil fazermos estas escolhas por eles! Desejo-lhe as maiores felicidades para si e para a sua menina.

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