18/12/2015

Como sobreviver a todas as festas Natalícias?

Se começaste a ler este texto à procura de uma resposta, lamento, mas vieste ao engano. Isto é, de facto, uma pergunta. Como é que se sobrevive a todas as festas de Natal das escolas dos filhos, jantares com amigos, almoços da empresa, lanches com amigos e reuniões familiares sem fim?!
Não há agenda que aguente tanta marcação, nem dias com horas que cheguem! Sobretudo quando a todos estes eventos antecede o ter de cozinhar um petisco de Natal para partilhar, e uma ida às compras para arranjar um presente ou lembrança para todas as pessoas a quem gostamos ou "temos" de oferecer um presente.

Eu cá não gosto da obrigação de oferecer. A partir de dia 1 de Dezembro não entro mais em shoppings, compras de supermercados só em lojas de rua, e prendas a comprar é numa das dezenas de Feiras e Mercados de Natal que proliferam nestas alturas.
Adoro oferecer presentes, premeditando cuidadosamente o quê para quem. Os meus presentes trazem sempre uma mensagem clara sobre o que quero dizer a essa pessoa.
Como se já não bastasse o Natal agora começar em Outubro, mesmo antes do São Martinho e do Dia das Bruxas, a urgência e a compulsão das compras de Natal deixam-me o já estafado espírito de Natal muito em baixo. De modo que todas estas festas Natalícias em causam uma enorme ansiedade, não quero falhar com ninguém com a minha presença e atenção, mas não sei mesmo como irei sobreviver a todo este stresse sem ter de me internar num spa após o Natal.
É que, a ver pelo que ando a gastar com tudo isto, não vai sobrar um eurito para a tão desejada sessão de relax e detox pós festas...

N.



11/12/2015

Ai, os 6 anos!

Ser mãe foi, para mim, uma luta, uma batalha que venci, pois hoje tenho-te a ti, minha sardanisca, (é assim que lhe digo, "és a minha sardanisca linda") .
Antes de ti, perdi uma gravidez gemelar. Foi extremamente duro mas hoje penso que existiu algo para aprender com a perda dos meus meninos.
Não deveria ser a hora certa, algo não estaria bem. Deus tinha outros planos para mim.
Por tudo isto e mais algumas coisas, o dia em que o teste de gravidez deu positivo foi um misto de loucura boa e pânico, simultaneamente.
Hoje tens 6 anos e cresces a olhos vistos. O tempo corre!
O esforço para te acompanhar no dia-a-dia e nada te faltar é brutal, mas faço tudo para que não o notes, nem sintas nenhuma diferença relativamente às outras crianças, por seres filha de pais separados. Só que, por vezes, sinto que falho, pois há respostas que me dás que são como um tiro no coração. Não ouves nada do que te digo, repito as coisas trezentas vezes... Será que não assimilas nada?! Onde estou a errar? O que devo fazer para que me ouças e faças simples tarefas?...

Há dias duros na maternidade. Nem tudo são rosas. Mesmo assim vale tanto a pena!
Vales qualquer ruga, qualquer cabelo branco, qualquer insónia.
Amo-te filha!

Xana


10/12/2015

Carta ao meu filho

Hoje fazes 6 anos. Seis anos.
Não sei como é que isto aconteceu, ainda no outro dia te estava a sonhar, imaginando como serias, e de repente já caminhas à minha frente, sem me querer dar a mão.
Sinto que foi ontem que te acariciava na minha barriga, pensado se terias os olhos do azul índico onde foste concebido ou se seriam castanhos como os meus. Torcia para que nascesses com a paixão do teu pai pelo mar, para o acompanhares, e o meu amor pelos animais, para que eu me pudesse orgulhar.

Num instante, já estavas cá fora e eras um bebé carequinha, lindo como aqueles de revista, e eu babava-me de cada vez que olhava para ti. Não me cansava de te contemplar e de sorrir para cada uma das tuas gracinhas, uma nova e deliciosa conquista a cada dia.
Dei graças a Deus por cada etapa ultrapassada, sem cólicas, bronquiolites, escarlatinas nem piolhos. Acima de tudo, agradeci cada dia livre dos prognósticos que te fizeram à nascença.

Depois começaste a rastejar, parecias um soldadinho em treinos militares, e antes de gatinhares já estavas em pé, correndo como um pinguim desequilibrado. Um dia, enquanto imitávamos os sons dos animais, gritaste "a bola!", e depois chamaste pelo "cãummmmmmm", e só tempos mais tarde tivemos o privilégio de te ouvir chamar por nós: "mamã", "papá", as palavras mais doces que tínhamos escutado.

Uma escola e depois outra. As primeiras festinhas dos amigos, as festas da escola, tantas novidades! Educadores que viraram família e nos ensinaram a relaxar enquanto pais. Pessoas que assumiram a dura batalha de te dar sopas e de te fazer o desfralde quando a sanita ainda era um papão.

Muitos passeios, várias viagens, a certeza que não negas a tua paternidade e que serás sempre um excelente companheiro de aventuras.
E, afinal, não tens os olhos azuis do teu pai, nem castanhos como os meus. Tens os olhos verdes e sonhos só teus. Se os animais sempre foram a tua perdição, já o interesse pelo surfe tem demorado mais a chegar, mas aos poucos vais lá.
Não sei se vais ser veterinário, astronauta ou carteiro. Ainda estás indeciso, é natural... O que eu sei é que, sejam quais forem as tuas ambições, tenhas 6, 16 ou 66 anos, a mãe vai sempre, sempre estar aqui para te ajudar a concretizá-las... Ainda que, pelo meio, tenha que te dar uns valentes puxões de orelhas.
Pois, faz parte. Os ralhetes, as zangas, a frustração, tudo isso faz parte da árdua missão de educar, que uns dias nos deixa cansados e com a sensação de que estamos a fazer tudo mal, e noutros nos eleva a uns estado de quase levitação por um orgulho e amor transcendentes.

Tu não tens sido um miúdo fácil ou se calhar eu é que sou uma mãe complicada, mas uma coisa sabes que é garantido: o meu amor por ti, faças o que fizeres.
E é por isso que te perdoo de já ires fazer 6 anos, de teres dado corda à tua infância e a fazeres passar a mil à hora, quase sem me dar tempo de a aproveitar. Eu perdoo-te, mas não te largo. Sei que já não gostas de beijos à porta da escola, nem de abraços demorados, que te irritas de te tratar por "bebé", mas disso eu não abro mão. Temos pena, vingas-te na adolescência!

Parabéns meus Amor!

N.

27/11/2015

Terapia de grupo (com bolinha vermelha)

Solteiras, casadas ou divorciadas, com relações mais ou menos apaixonadas, a verdade é que todas as mulheres precisam de um pouquinho de fantasia nas suas vidas para apimentar a sua sexualidade. 
Isso mesmo, sexualidade. Porque a maternidade não nos deixa menos sensuais e sedutoras, nem tão pouco nos deve inibir de continuar a explorar a nossa sexualidade, ainda que em decibéis mais reduzidos para não acordar a criança que dorme no quarto ao lado. 

E foi por isso que, uma destas noites, demitindo-nos temporariamente dos nossos afazeres familiares, fintámos o sofá, demos um beijo de boa noite à malta lá de casa, e reunimo-nos em casa da Xana, para uma reunião feminina, regada a vinho e uma dose generosa de chocolates, para desinibir quaisquer tabus ou preconceitos.
Chamámos a Cláudia e com ela a promessa de uma noite de grande risada e aprendizagem. 

Como se de um espetáculo se tratasse, em jeito de stand up comedy misturado com manual de instruções ao vivo, assistimos à apresentação de um conjunto de artigos, que se nos revelaram como um incrível mundo novo.
Cremes de corpo comestíveis com sabor a chocolate, morangos e champanhe ou maracujá, que nos torna irresistíveis para sermos beijadas infinitamente; velas que, uma vez derretidas, se derramam sobre o corpo, transformando-se em óleo de massagem, quente e perfumado; lubrificantes com sabor a mojito (uma piela à prova de grávidas ou lactantes); uma espuma crepitante de massagem, capaz de arrepiar os/as mais insensíveis, numa explosão tipo Petazetas; incensos com feromonas, para atrair os companheiros mais distraídos; vibradores com os mais variados e estranhos formatos, para diversos gostos e finalidades; chicotes para nos armarmos em dominadoras (e também para explorar outras sensibilidades), géis com efeito quente e frio, para intensificar o prazer; entre outras apetecíveis malandrices.

Só sei que estes brinquedos garantem, na pior das hipóteses, uma boa dose de diversão e experiências na cama (ou fora dela!) que ficarão, certamente, para a nossa história pessoal, na categoria "Eu já fui a uma Maleta Vermelha" - e adorei! 

N.




06/11/2015

TGIF (thank God it's Friday!)

Sempre tive uma vida social animada. Nunca fui muito de sair para discotecas mas, até engravidar, era rara a semana em que não tinha um jantar com amigos, em casa ou num restaurante da moda. Sendo os amigos a família que escolhemos, são uma parte muito importante da minha vida, e não foi o casamento ou a maternidade que mudaram a necessidade de estar com eles. Claro que os jantares e as saídas ficaram mais espaçadas e condicionadas aos horários da família, mas lá em casa fazemos por respeitar a individualidade de cada um, e isso significa que, à parte dos momentos familiares e em casal, cada um tem o seu tempo para o desporto, para ir ter com os amigos, ou para estar simplesmente sozinho.
Não é fácil conjugar horários mas faz-se por uma questão de sanidade mental. E, para mim, é imperativo uma vez por semana estar com as minhas amigas, seja num pequeno-almoço apressado na cafetaria que fica entre as escolas dos miúdos, num lanche caseiro ao Domingo, num café em modo de fuga de uma ensurdecedora festa infantil, ou num jantar com direito a teatro ao Sábado à noite. Isto é a minha terapia, as gargalhadas que soltamos juntas são o meu anti-depressivo.
Falar dos disparates dos miúdos, cascar nos maridos, gozar com as nossas próprias figuras ou simplesmente jogar conversa fora, naqueles assuntos que só gajas entendem. Não há melhor forma de aliviar o stresse do dia-a-dia que dividir com as pessoas com quem nos identificamos as nossas aventuras e desventuras.

Mas à quinta-feira o meu foco já só está no momento em que na sexta à noite chego a casa, visto logo o pijama e como um frango ou pizza de take away mesmo no sofá, onde nos refastelamos de seguida, bem aninhados uns nos outros até adormecer (o que geralmente acontece 10 minutos depois).
De modo que quando me convidam para uma saída sexta-feira à noite a minha primeira reação é "Não". E a segunda é "não vai acontecer, não contem comigo". E, se na insistência ainda me tentam convencer com argumentos como "vai ser giro, vamos a uma discoteca dançar", então isso é o mesmo que oferecer-me uma viagem de metro à hora de ponta, como disse a minha amiga Rita, numa conversa a propósito disto de sair à noite.
Mas pronto, depois lá desço do chinelo de mãe acabada, coloco o vestido das saídas noturnas (que já cheira a bafio, tal é o tempo em que está arrumado) e enfio na mala a bolsa das pinturas para logo, após cinco cafés, me embonecar para ir jantar, tomar um copo e, qui çá, abanar o esqueleto agarrada às amigas que tão bem me fazem.

(N)
 

01/11/2015

Não gosto que os meus filhos façam anos.

Sou a pessoa mais lamechas que conheço: no dia seguinte ao casamento fiquei triste...porque tudo o que envolveu e antecedeu aquele dia foi tão único e intenso que sabia não vir a repetir.
Aconteceu-me mais ou menos a mesma coisa quando fiquei grávida e depois quando tive o primeiro filho.
E acontece-me em muitas outras coisas e momentos da minha vida.
Sou apegada a coisas, a momentos e às minhas pessoas.
Lembro-me com saudades (tantas saudades) de quando eles eram pequeninos. De quando cabiam inteirinhos no meu colo. De quando me davam beijocas sem vergonhas.
E apetece-me que o tempo volte atrás. Ou que pare agora e não avance mais.
O tempo voa. Passa num ápice. E eu fico meia desorientada. Acho que não o consigo acompanhar. Faço mil planos para o futuro mas vivo muito presa ao passado e às memórias que ficaram.
Amanhã o Afonso faz 6 anos. Vou ficar muito feliz por ele já ser um homenzinho, por ver que tem tantos amigos, por estar feliz, por estar comigo. 
E vou chorar de saudades pelo meu bebé. Pelos caracóis desgrenhados que deram lugar a um cabelo arranjadinho, pelo jeitinho doce com que se aninhava no meu colo e pela forma subtil com que à noite se esgueirava para a minha cama.
E vou agarrá-lo com força. Várias vezes. Vou dar-lhe beijos. Aos montes. Vou dar-lhe colo. Mesmo com ele a espernear para sair.
E vou dizer-lhe que o amo até ao infinito...e muito mais além!
Parabéns filho!!!

Rita

27/10/2015

Déjà vu

Este fim-de-semana fui tia. Seguindo a tradição da família, o meu sobrinho decidiu apresentar-se ao mundo com oito semanas de antecedência. Mãe e filho estão bem, ainda que ambos a recomporem-se do choque e a adaptarem-se a este cenário tão anti-natural.

Nesta altura, a mãe devia estar com o bebé nos braços, a amamentá-lo... Os dois travando mútuo conhecimento do cheirinho e formas de cada um. Ao invés, ela está num quarto de hospital longe do filho, que ainda se encontra a crescer na incubadora, sem lhe conhecer o choro nem o olhar, sem saber o que lhe está a acontecer, sem lhe poder vigiar o sono e perdendo toda aquela magia do primeiro toque. Ao invés, é espremida a cada duas horas para ver se já tem leite. Ao invés, está deitada, mal se conseguindo mexer, porque se sente como se um camião lhe tivesse passado por cima.
Assim, de repente, foi-se o "brilho" da gravidez e a luz de ser o foco das atenções. Agora, todas as perguntas se centram no bebé e ninguém parece querer saber da mãe oleosa, pálida e com olhar tristonho, que nem sequer parece feliz com o nascimento do filho que mal viu.

Por ter passado pelo mesmo, foi para mim que minha cunhada ligou quando lhe romperam as águas. Fui eu que tive a missão de lhe dizer que, no meio daquele pesadelo, depois de todo o inevitável sofrimento, tudo ia correr bem e valer muito a pena.
Na manhã após o parto, levei-lhe blush e perfume para que ela se sentisse mais bonita quando fosse conhecer o filho, lembrando-me do bem que me senti quando, na mesma situação, tive a minha mãe a arranjar-me as sobrancelhas após dez dias de internamento. Futilidade, poderão alguns pensar. Mas não.

Para quem ainda pensa que cesariana é coisa para mulheres fracas, fiquem sabendo que ter a pele e os órgãos cortados, gente a remexer-nos nas entranhas, espremendo e puxando a placenta, puxando-nos consecutivamente a barriga de um lado para o outro de forma a conseguir retirar a criança lá de dentro não é uma sensação propriamente agradável. Tal como não é estarmos duas ou três semanas a uivar por causa da dor na sutura, de cada vez que nos erguemos (que é, basicamente, a toda a hora). Sim, a cesariana é dolorosa e o tempo de recuperação torna complicado cuidar de um bebé, quanto mais de nós mesmas. Por isso, não é futilidade apreciarmos que nos arranjem as sobrancelhas, coloquem um pouco de blush e nos penteiem o cabelo emaranhado num nó em forma de touca, para que nos sintamos um pouco melhor.

Que bem sabe ter quem nos pergunte como estamos, sem querer apenas escrutinar os pormenores do parto, e nos acarinhe com beijos e festinhas, por oposição ao constante pica aqui, apalpa ali, vira para acolá, arranca daí, que médicos e enfermeiros nos fazem, como se o nosso corpo não tivesse dono.
E agora começa a saga das perguntas, em forma de acusação, sobre a amamentação... Se o fazes ou não e porque não, ou porque não tentas mais, e vais acabar por conseguir, até vais gostar, e tudo pelos nossos filhos, ou queres ver que tu não és uma dessas mães altruístas que fazem tudo pelo bem do teu filho, incluindo forçar a produção de leite que o teu corpo não faz?!

Todas as mulheres, mães ou não, têm uma opinião, e nem todas a sabem guardar sabiamente para elas. Esquecem-se que quem manda no nosso corpo e vontade, assim que temos alta do hospital, somos nós e isso dá-nos o direito e o dever de assumir as melhores escolhas (incluindo as que nos são impostas pela natureza). E que ninguém duvide que o faremos.

Por isso, minha querida A., ainda que hoje tudo te pareça um injusto castigo, um dia vais perceber que não foi mais que uma lição que tu precisavas de aprender para descobrires em ti a força que desconhecias ter.
Está tudo a correr tudo bem. E nunca te esqueças: os milagres acontecem! ;)

21/10/2015

Crescer dói

E, assim, do nada, a cria já frequenta o 1º ano do ensino básico há precisamente um mês.
Os primeiros tempos têm sido de adaptação constante a tudo e a todos. Muitas rotinas novas, horários
diferentes e, especialmente, pessoas diferentes.
O processo parecia relativamente fácil. Foi para um nova escola com o grande amigo Afonso, o que ajudou imenso.
Nos primeiros dias, arranjou uma nova amiga, a Vera. Esta e o Afonso foram, são, os seus pontos de abrigo.
O mês ia decorrendo e tinha necessidade emocional de acompanhar cada passo dela. Perceber como se estava a encaixar neste novo mundo. Tudo corria bem. Com algumas queixas de novas colegas….Mas, desvalorizando a questão e tentando sempre que a minha filha as resolvesse, pois pareciam-me menores.

Só que, de há uns dias para cá, todas as manhãs, dizia que não queria ir para a escola. No corredor, agarrava se à minha perna. Notava que não estava confortável. Havia ali algo...
Falava com ela, perguntava e nada lhe saía. “Tudo bem mamã, tudo bem só tenho é imensas saudades
tuas durante o dia. Só isso”, respondia.
Hum, por muito que a afirmação me aquecesse o coração… Havia algo mais.
No jantar, disse-me que chegou atrasada à sala de aula, depois do recreio. Como? Não ouviste o sino?
Cara de assustada. Calma bebé (sim será sempre a minha bebé com 40cm e menos de 1500kg quando nasceu… Outra história para depois). Não tocou, explicou a cria. Pronto são coisas que acontecem. “Não ouviste ninguém chamar?”. Também não.
E, num choro compulsivo, agarra-se a mim e diz que não quer ir para a escola.
“Alguém te ralhou por isso, bateu, chamou nomes? A fera que há em mim entrou em alerta, subiu ao
monte do Evereste só para a socorrer. Ai, tive vontade de pegar no carro e dirigir-me ao colégio. Bater em alguém.
No meu colinho, contou-me que a C. não era amiga dela, que algumas meninas ainda não brincavam
com ela, que isto, que aquilo. Afinal, a mudança foi mais dura do que parecia. A Nês vem de uma redoma, não sabe ainda lidar com a maior parte das questões que envolvem o crescimento, a mudança
Questões essas até muito simples, práticas. Não sabe lidar com a frustração, com a rejeição...
No infantário, extremamente familiar, todos eram amigos e não havia distinções ou conflitos. Era tudo tão perfeito (seja lá o que isso quer dizer, mas para a minha filha e a sua hipersensibilidade funcionava).

A Nês saiu da redoma. E, agora, vai de, alguma forma, crescer um pouco mais depressa. Da redoma para o mundo. E tem sido um mundo novo, consideravelmente fácil para mim, que sou crescida. Não para ela.
Crescer dói... Filha ,crescer dói!
Faço-te uma simples promessa….Eu estarei sempre na retaguarda, à tua esquerda, à direita, atrás e à frente para te minimizar a dor.

Xana

O amor não tem tamanho nem cor

O meu filhote, que sempre foi fiel às suas duas namoradas (era uma relação publicamente aberta entre o trio amoroso), aquando da saída da antiga escola disse que não queria saber mais de raparigas. Até conhecer a Íris... a Íris que, além de ser gira e ter o cabelo curto, gosta de Invizimals e de Pokémons!

Esta mãe, que é uma cusca, achou que tinha o direito de saber quem é a miúda fixe que roubou o coração ao seu príncipe, e vai de começar a olhar para os cabelos das miúdas e fazer perguntas a ver se descobre quem é a Cinderela. Ontem achei que tinha desvendado o mistério, e avancei para uma pequenita (que bom, finalmente o meu filho escolheu uma menina do seu tamanho!) a perguntar se ela era a famosa Íris. Não era. "A Íris é uma menina cor de chocolate, muito alta", disse-me ela.


Ainda não descobri quem é, mas em casa perguntei ao meu filhote porque é que ele não me tinha dito que a Íris é "cor de chocolate".
"Mas que diferença isso faz?", respondeu-me ele. E o meu coração sorriu.
Nenhuma. A cor não faz diferença nenhuma. A tua resposta sim. Lembrou-me logo da música "Cupido" dos Expensive Soul:

"É infinito,
Não tem tamanho nem cor,
Até acredito
Que talvez possa ser o amor"

N.

15/10/2015

Bullying aos 6 anos? Sim, existe.

 No dia em que a minha filha se mudou para a nova escola ia nervosa e cheia de medo. Desde os 2 anos que estava num colégio pequeno, que funcionava como uma segunda família, onde desde a cozinheira às diretoras, toda a gente sabia o nome dela e conhecia a sua timidez perante crianças, e extroversão num mundo de adultos, talvez motivadas por ser filha única, a mais pequena no universo familiar, no qual uns já tiveram filhos há muito, e outros ainda não os começaram a ter. Durante quatro anos, foi feliz ali e eu tinha a certeza de que todos olhavam por ela e intervinham se necessário.

A mudança para outra escola foi assunto debatido até à exaustão. Pública ou privada, pequena ou grande, como seria a nova escola e o 1º ciclo? Como é que ela iria sobreviver quando fosse “atirada aos lobos”, porque até, então, vivia numa redoma. A opção recaiu numa escola privada de renome, com provas dadas, turmas pequenas, matriz cristã, ensino abrangente. Quem lá andou, ficou com as melhores recordações, uns até com amigos para a vida. Uma antiga colega do jardim de infância tinha entrado no ano anterior e as referências eram excelentes. Achei que era ali que podia crescer, desde a primeira vez que a fui visitar, e ficou.
No primeiro dia, ia formosa e não segura, mas saiu aliviada. “Já não estou nervosa. Gostei da nova escola”, disse-me quando se sentou na cadeira do carro. E, de repente, as lágrimas teimavam em cair dos meus olhos, num misto de felicidade e alívio. Mas nada disto durou muito tempo. As lágrimas de alegria são, hoje, de profunda tristeza, angústia. Sinto-me perdida e sem saber exatamente o que fazer, mas com a certeza de que vou agir e rápido.
Está tudo a correr bem com as disciplinas. Adora aprender, tem enorme facilidade em fazê-lo, é uma verdadeira “esponjinha” observadora, opinativa e expressiva. Herança genética.
Também não tem nada que a distinga fisicamente dos outros. Magra, estatura média, gira (pronto, eu sou a mãe e, portanto, suspeita). Mas é frágil. A timidez leva-a sempre a baixar os olhos para se resguardar, e a ficar sozinha quando não se sente à vontade. Nunca se queixa. Nada que já não soubesse. Por isso, fiz questão de avisar a professora e uma das psicólogas do colégio logo quando entrou. Estariam atentas, mas o processo de mudança estava a correr muito bem, asseguraram. Até se dar o embate com a líder das raparigas da turma. São seis meninas para dez rapazes, poucas para poder haver escolha. Nesta altura, a segmentação por sexo é notória e não tem muitas colegas pelas quais possa optar. Na realidade, nem se identifica com nenhuma. Gosta, sim, das colegas da outra turma para a qual não ma deixaram transferir quando as aulas ainda estavam no início, apesar dos meus apelos e das vagas notórias.
Mas voltemos à pequena bulldozer. Nos primeiros dias de aulas, a C. destacou-se logo pela sua simpatia. Deu com o casaco em cima da minha filha, com tal delicadeza que ela chegou com ferida na cara e nariz. Desvalorizei. Todas as crianças passam por estas fases e a menina tinha uma notória necessidade de marcar terreno. Iria passar, julguei, até porque tinha escolhido outros alvos para expandir a sua energia exagerada. Porém, os episódios foram-se repetindo. Idiota, parva e brincadeiras com o nome são só meros e suaves exemplos do que esta criatura loira e abrutalhada já disse à minha pequena criatura, em apenas um mês e pouco. Também lhe tentou “roubar” a amiga que a L. fez na outra sala e está sempre a incitar as outras a gozarem. Um verdadeiro primor de educação.
O requinte é tal que ela sabe exatamente quando o pode fazer: sempre que não há adultos por
perto, ou seja, quando a professora sai da sala por algum motivo, no recreio sem que as auxiliares vejam, no refeitório quando não há adultos por perto.
A minha filha está farta. Sente-se gozada e humilhada e di-lo a mim com todas as letras. Revela enorme ansiedade traduzida na borracha e lápis todos roídos, quase comidos, na forma como só fala na colega durante horas e range os dentes a dormir de segunda a sexta. Eu, mãe assumidamente galinha e protetora da sua cria, tive várias vezes para agarrar no braço da “doce menina” e sussurrar-lhe que se volta a fazer mal à minha filha vai ter de conversar comigo. Não sou para brincadeiras e ela vai perceber isso.
A C. tem 6 anos e desafia todos os limites. Até a forma como olha para nós, pais, é a de quem está disposta a comprar uma guerra. Nessa altura, inspiro, expiro e quase piro, mas faço o politicamente correto: falo com a professora, uma, duas, três vezes. As conversas entre elas claramente não surtem efeito, por mais que me digam que prometeu não voltar a fazer. Na verdade, no dia seguinte, tudo se passa da mesma forma.

Segue-se reunião esta semana. Não serei branda, não deixarei que magoem a minha menina, a pequena rufia não ficará impune. É tudo o que consigo dizer, depois de ter perdido conta das vezes que chorei nos últimos tempos, do quanto me revoltei. Tenho medo, tanto como a minha filha, mas estou cá para lutar por ela e fazê-la lutar pelos seus próprios meios. A C. não ficará impune. Não pode.
E, sim, isto passa-se, num escola privada com pergaminhos, onde todos se julgam de uma certa elite.


 
Carla

12/10/2015

Prefiro um bom divórcio a um mau casamento

Hoje celebro (sim, celebro) 3 anos de divórcio.
Faz exactamente 3 anos que assinei a decisão mais fácil e, simultaneamente, mais difícil da minha existência.
Mas como é que  cheguei a este ponto, se até nos dávamos bem, no meio de tudo?!
Bem, primeiro, tenho a dizer que sei que foi a melhor decisão tomada, se dúvidas houvesse.
Cheguei triste àquela sala fria e muito formal, numa conservatória da Grande Lisboa, mas ia segura e com a certeza que era, de facto, o que queria.

 Foi há 3 anos que me olhei no espelho, com olhos de ver. Perguntava-me como é que aquilo me tinha acontecido. Tinha uma vida boa, uma sólida estrutura familiar e nada me faltava. Mas não era feliz dentro das minhas quatro paredes. Ou melhor, era feliz, mas não da maneira que sempre sonhara.  Sim, o sonho de menina, no castelo, o rei e a rainha a viverem felizes para sempre, com as crianças alegres, de um lado para o outro.
Só que o que vi foi diferente. Era uma amizade que existia, um companheirismo saudável, uma boa relação de papás.
O espelho dizia-me (como na história da Branca de Neve ) que tinha direito a mais. Mereço mais. Quero mais. Quero amar!
O anjo e o diabinho no meu cérebro disputavam sentenças. Dizia-me o diabinho e a minha cria "Tens de ficar no casamento, aguenta. Qual é o stress? Tanta gente que vive assim. És apenas mais uma..."
"Não", dizia o anjinho, "Não tens de lhe dar mais. Tens de estar em paz e transmitir a verdade, sempre a verdade, pois mais cedo ou mais tarde vais-te cansar, vais descompensar e aí sim, vem a tempestade. E quem vai sofrer? A cria. Sofrem sempre as crias".
Mais vale um bom divórcio a um mau casamento. Atua, todos beneficiam.

Quero criar a minha filha com toda a serenidade possível, quero que ela sabia o poder do amor. E o amor é transversal. Quero que ela entenda que amo o pai dela, mas de outra maneira.
Não, fingimentos não.  Ela irá saber que o amor é muito mais.

E foi assim que iniciei a jornada para me separar.  Se foi fácil? Hmmm... Isso ficará para outro post!

Xana

09/10/2015

Como dar cabo da reputação de uma criança em 3 tempos

O Afonso mudou de escola e entrou no 1º ciclo.
O meu lado histérico previu dificuldades. Como tal, o meu lado obsessivo (estou carregadinha de características positivas) tratou de fazer tudo com pézinhos de lã.
Tivemos reunião com a diretora e com a Coordenadora (2 vezes); visitamos a escola antes das aulas começarem (3 vezes); colocámos as crianças em adaptação à escola uma semana antes do início do ano letivo; reunimo-nos com a professora (que escolhemos, por empatia) e fizemos um esforço para conhecer e interagir com as crianças da sala, para ajudar o Afonso na relação.
O esforço foi compensado e correu tudo bem. Missão cumprida!
Podemos respirar fundo!

E então, na hora do lanche, o meu filho abre a lancheira e tira lá de dentro uma caixa cor de rosa cheia de brilhantes e com não uma, nem duas, mas três princesas da Disney!

Aguenta filho! O 1º ciclo são só 4 anos e depois há toda uma vida nova pela frente!

(Rita)


08/10/2015

8 e 80


A internet está cheia de maravilhosos textos sobre a maternidade que vendem o conceito de ser mãe como algo de inexplicavelmente mágico e gratificante. Quanto ao tema, eu nada consigo acrescentar porque ser mãe é, de facto, tudo isso. Mas não só.
O que a maioria dos textos não fala e a maior parte das mães não expõe é que a maternidade nos torna um pouco bipolares.
Já se sabe que, na gravidez, parte significativa dos nossos neurónios migram sabe-se lá para onde (esperemos que seja para o bebé), e ficamos meias "lerdas", com uma lentidão de raciocínio e reação que nem nos reconhecemos.
Depois, com o nascimento dos nossos filhos, os neurónios demoram a regressar (e nunca em igual número relativamente aos que partiram) e penso que seja aí que ocorre o fenómeno que eu chamo 8 e 80.

Tudo começa ainda no berço quando, à noite, o bebé te acorda de três em três horas para mamar, e tu, enquanto lutas para abrir os olhos e te levantares, amaldiçoas o dia em que quiseste ter filhos. Dois segundos a seguir, estás de ar embevecido, a olhar para a melhor decisão da tua vida com um amor imenso a brotar-te do peito.

Mais tarde, é com a alimentação. Num momento estás empolgada, porque o teu filho vai começar, finalmente, a comer sólidos, e no outro estás toda encharcada em sopa e desesperada porque o o raio do miúdo não ingere uma única colher e já antevês tempos difíceis.

Ou quando, já com a cria na creche, estás ansiosa a contar os segundos para a ir buscar, vais a abrir pelo trânsito, chegas esbaforida, mas feliz à escola para a abraçar e matar as imensas saudades e a criatura quase que te ignora, preferindo continuar a brincar do que ir contigo para casa enterrar-se no teu esfomeado abraço.

E as vezes em que ralhaste severamente com o miúdo porque, mais uma vez, ele não arrumou o quarto, deixou tudo de pantanas depois de lhe teres dito umas 30 vezes para arrumar aquela confusão. Ainda estás tu com o ritmo cardíaco acelerado de te teres irritado e, logo a seguir encontras, perdido no meio da tralha, um desenho que ele fez sobre ti, toda envolta em corações e arco-íris. E o coração quase pára.

Ainda ontem tive de castigar o meu filho, porque agora à hora do jantar, dá-lhe sempre para fazer uma mise en scène em que se finge quase adormecido à mesa (quando há um minuto estava aos pulos no sofá) a ver se se escapa ao prato da refeição. Disse-lhe "muito bem, tens sono então vais já para a tua cama dormir. Não precisas de comer mais, lavas os dentes e deitas-te. Mas, claro, que hoje não brincamos nem há história". E, então, começa uma enorme birra, na qual eu também entro, serenamente firme na minha decisão. Ele chora compulsivamente, pois quer a história e eu permaneço irredutível, mas com o coração a latejar de dor. E assim que ele adormeceu, ainda de lágrimas no rosto, chorei também.

É assim, do 8 ou 80. Num minuto estás fula da vida com a tua criança e, no seguinte, estás de coração derretido por ela. Ou o contrário, num momento estás a transbordar de um amor que quase te sufoca, e imediatamente depois sentes-te despedaçada com algum gesto mais ingrato. 
Nestas oscilações, o nosso pobre coração de mãe fica, obviamente, meio esquizofrénico, não há hipótese... O que vale é que o Amor (quase) tudo cura. Isso ou Valium.

N.

 

05/10/2015

Crianças com trela e unhas encravadas

No outro dia ouvi a senhora que estava sentada na mesa ao lado falar sobre a sua infância.
Dizia que a mãe prendia-a com uma trela, juntamente com os irmãos, de modo a que eles estivessem sossegados.
Não fosse já isto motivo suficiente para algum choque, o pior foi quando ouvi a senhora dizer que tudo isto era normal e que, afinal, ela não tinha morrido por causa disso.

E passam-me tantas coisinhas pela cabeça neste momento:

- A senhora da trela queria que os miúdos estivesses sossegados ou era ela que não queria fazer nenhum?! Do tipo...levar com seres pequeninos que guincham e que não param quietos porque sofrem de uma doença que se chama infância e sobre a qual somos totalmente responsáveis porque somos mães;

- Quanto à justificação "não morri por causa disso" que fica sempre bem a quem não tem um argumento mais válido do que o "porque sim", tenho a dizer que uma vez tive uma unha do pé encravada e também não morri por causa disso. Mas dói que se farta, não me apetece repetir.
E houve outra vez em que bebi um copo de leite azedo (só dei por isso no fim...foi alarvice, eu sei) e também não morri por causa isso. Mas se tudo correr bem não volta a acontecer.

Devo dizer ainda acerca das trelas que não gosto de as ver em crianças. Primeiro porque visualmente parece que aquela situação por si só está a diminuir a criança na sua essência: os miúdos são para estar a saltar, a rodar, a subir a cada poste que encontram ao longo do passeio (e raio...tantos postes que encontramos em 100 metros).
Depois, porque acho perigoso. Afinal, se uma criança se habituar a andar com trela não vai aprender a respeitar ela própria as regras de segurança quando anda na rua (há que saber andar nos limites do passeio, não atravessar a estrada sem antes dar a mão aos pais, saber que é na passadeira que se atravessa,..., e tudo isto sem precisar ser empurrado e puxado por uma trela).
Educar dá trabalho que se farta...mas é assim!

Portanto, a menos que a criança tenha alguma perturbação específica do comportamento (que justifique ter de estar permanentemente sob controlo) não estou de acordo.

E senhora que estava sentada ao meu lado: não repita a proeza com os seus filhos, sim?!
Na dúvida...adote um cão!


Rita




01/10/2015

Tirem-me os espelhos da frente e não me digam nada se faz favor!

Não costumo olhar muito para o espelho. Tenho tamanho de amostra, nunca fui gorda e não sei o que são dietas. Depois de ter as crianças até precisei delas (não fossem os 9 meses terem dado um bónus de 18kg. Sim...era uma pequena lontra)... mas elas, ao que parece, não precisaram de mim e achei que era melhor deixar estar (os quilos a mais entretanto decidiram ir chatear outra).

Bom. O que interessa é que me caiu uma maçã em cima da cabeça e descobri a gravidade. Na verdade, não foi uma maçã que caiu...
Sou eu que já não estou a ir para nova, parece que a idade sobe e tudo o resto desce.
Digo para o meu marido: "olha bem para mim, tu já viste como é que estou?!". Ele responde "Estás bem. Estás até com um ar mais natural!".
(Entretanto, à pala disto, pedi o divórcio mas deixo os pormenores para outro post).

Ontem ligaram-me de um ginásio para sugerir que me inscrevesse (maldito telemarketing). Foi um presságio, raios!
Mandei-os dar uma curva mas, se calhar, tenho que pensar melhor na minha decisão.

A idade é tramada (a palavra que me veio à cabeça não foi bem esta).


Rita

30/09/2015

A noite chega muito depressa

Acordar cedíssimo, colocar tudo prontinho na lancheira, de banho tomado e meia vestida vou acordar-te. Ah, meu bebé, dormes como um anjo... Mas upa, outro dia raiou.
As horas passam tão depressa que, neste momento, precisava que o dia tivesse 48, só para te aproveitar um pouco mais.

Nem respiro. Chegam as cinco da tarde, assim, do nada. Ai que está quase a bater o sino para te ir buscar. Em casa, fazer tudo, desde dar-te banho, ajudar no TPC, fazer jantar e almoço para o dia seguinte, mimos (que sabem a pouco para mim) e deitar-te. Não há tempo para mais nada, constato com a lágrima a escorrer.
Raios, faz parte não?!  Porque é que fico assim? Onde paira a qualidade do dia? Questiono-me vezes sem conta. Não sei. Ainda estou a tentar habituar-me.

Adormeces num ápice, sei que o dia também foi longo para ti, meu anjo.Demasiado longo para os teus 6 anos. A noite chega muito depressa.


Xana


29/09/2015

Não chegavam os TEC, eis que vieram os TPC!

E, num clique, estamos nos 6 anos. Escolhemos novas escolas (há tanto para falar sobre este assunto que remeto para mais tarde), dão-nos uma lista infinita de material escolar para comprar, que nos obriga a percorrer o equivalente a 10 km de caminhada, preenchemos papelada que não acaba, tentamos habituar-nos aos novos horários, vamos a reuniões com pessoas que nunca vimos à frente e eis que começa o primeiro ano lectivo do resto da vida de estudante da pequena criatura, que estimo que termine lá para os 23, com o mestrado feito e pago pelos papás.
Mas o pior de tudo é voltar aos TPC (Trabalhos Para Casa), que tinham sido banidos da nossa existência há quase duas décadas. Não bastavam os TEC (Trabalhos Em Casa), aquele tipo de tarefa enfadonha e que não acaba, tal como pôr a roupa a lavar, a secar, preparar para mandar engomar, fazer refeições, limpar o que não foi limpo, arrumar, enfim, manter a ordem no caos de quem tem homem e criança em casa.

Em nove dias de aulas, a minha filha aprendeu duas letras: i e u e quer fazê-las até à (minha) exaustão… Também tem de escrever o nome em letras manuscritas, porque com as outras já escrevia desde os tenros 5. Nada de especial para quem se está a estrear nestas lides. Aliás, no primeiro mês, até nos foi dito que os alunos não têm TPC, só que treinar… com os pais, claro!
Também precisamos de ter prontinho para levar um portátil para as aulas de TIC (Técnicas de Informação e Comunicação), o CD de inglês devidamente descarregado e ouvido no descanso do lar. Só falta mesmo termos de saltar nas aulas de ginástica e cantar nas de música. Já faltou mais.

Com este andamento, temo que, até dezembro, já leia os Lusíadas e eu esteja num daqueles retiros espirituais onde as letras não são tão importantes assim, muito menos um computador.


Carla

Sobre os Planos

O dia em que nasceu o meu filho foi o dia mais infeliz da minha vida. De nada me valeu o curso de preparação para o parto, o yoga para grávidas nem a carrada de literatura sobre a gravidez, o plano de nascimento, a amamentação e os cuidados com um recém-nascido. Nada me preparou para o dia em que, estando eu entre a vida e a morte, me arrancaram o meu filho de dentro de mim. Num dia estava feliz a fazer a árvore de natal com o meu marido, e uns dias mais tarde estava sozinha e apavorada num bloco de partos (poupo-vos os detalhes mórbidos de todo o processo).
Não vi o meu filho nascer, não lhe ouvi o choro, não lhe pude tocar, embalar ou amamentar. Quando, finalmente, o pude ir conhecer, ele já tinha 5 dias e não era o bebé lindo que eu tinha sonhado. Era pouco diferente de um ratinho, com a cabeça ainda disforme, sem cabelo nem pestanas e só com uma fina penugem que lhe cobria o corpo de 27 cm. Nascido às 30 semanas de gestação, o meu filho tinha o peso de um pacote de leite e eu não podia mexer-lhe, sentir o cheirinho, nem sequer mudar-lhe a fralda.
Duas semanas depois, tive alta mas voltei para casa de mãos a abanar, para um lindo quarto de bebé vazio. Todos os dias ia ver o meu filho, só que tinha horas e tempo limitado para lhe pegar. Não foi como tinha imaginado. Quando o trouxe para casa, ele tinha um mês e meio, mas continuava a ser um
bebé minúsculo e nada era como vinha nos manuais ou nas histórias e discursos que sempre
tinha ouvido. Foi muito diferente, muito duro, mas acabou por ser a minha história de sucesso. Aprendi a confiar nos planos de Deus.

Entretanto o meu filho cresceu e tem, hoje, quase 6 anos. É um miúdo saudável, giraço e a pessoa que mais amo nesta vida. No entanto, continua a não ser a criança descrita nos lindos textos sobre a maternidade. Sem colocar em causa o seu amor por mim, não é o menino carinhoso e protetor da mãe como costumam dizer que os rapazes são. Os seus gostos e aptidões nada se parecem com os nossos, e o seu comportamento nem sempre espelha a educação que lhe damos em casa, o que me leva, muitas vezes, a duvidar do meu trabalho e eficiência como mãe. Sei que faço e dou o meu melhor, mas não raras vezes me questiono. Será suficiente? Será o correto?
E, mais uma vez, a vida mostra-me que não vale a pena fazer planos, e eu aprendo que tenho de respeitar a individualidade do meu filho como respeito a de qualquer outra pessoa. Que não vale a pena sonhar com o que os filhos serão ou farão, mas abrir bem os olhos para ver o que eles realmente são e fazem, neste momento, no aqui e agora. Olhá-los e vê-los como o milagre que nos aconteceu. Como o nosso melhor caso de sucesso, porque seja qual for o final da história, aquilo que já ganhámos ninguém nos tira.


N.

28/09/2015

Fato de treino… no colégio

Desde dia 15 de Setembro que pareço a mulher zombie, ora a rir, ora a chorar, ora a bocejar… Sobretudo a bocejar. Motivo: a pequena criatura iniciou o primeiro ciclo e eu deixei de ter o primeiro sono da manhã. Toca a despertar, tomar banho, tratar de pequenos-almoços, ver se a farda está completa, pegar na mochila, lancheira e, já agora, na minha mala. Não esquecer a criança, mas ela faz-se ouvir, não há problema! Entrar no elevador e ver se estamos todos compostinhos rumo ao novo dia que mal nasceu (pelo menos é a impressão que tenho).
Sinto-me vitoriosa por seguir um dos mandamentos da minha mãe, traduzindo, vou decentemente vestida, penteada e, pasme-se, consigo até sair maquilhada. Pareço quase a mulher maravilha não fosse a correria e a agenda cheia de tarefas para cumprir, a martelar na minha cabeça ainda meio adormecida.

E eis que entro na sala onde se reúnem alunos e professores antes do dia começar. No primeiro, levo logo uma cotovelada no olho de uma mãe atrasada, que não sabe que a palavra “desculpe” existe. Assumo como uma praxe.
Depois, olho em volta e chego à conclusão que as mães são como as castas de uvas. Há para todos os vinhos, mais doces, mais amargas, mais claras ou sempre bronzeadas. Mas há uma espécie que se distingue e com a qual ainda não me tinha cruzado anteriormente: as impecavelmente vestidas num fato de treino justo, e maquilhadas como se fossem para uma festa. Umas mostram as curvas, outras a falta delas. Todas a serenidade de quem, a seguir à entrada das crias nas aulas, vai caminhar, praticar exercício ou simplesmente não fazer nada até ser hora de voltar a picar o ponto.
E, não invejando nada o fato de treino na versão cheio de base, cobiço o tempo para nada fazer que ostentam. E, sim, sei que nunca conseguiria ser assim, mas a verdade é que uma certa raivinha se apodera de mim por uns quantos minutos.



Carla

27/09/2015

A magia do sono ( ou a falta dele )

Uma mãe sabe que está com falta do dito quando tira um pacote de leite da despensa, faz os cereais para a cria, e volta a arrumar o pacote na despensa ( bem arrumado para que se saiba ).
Andei doida a pensar onde raio está o pacote, se ainda há pouco o abri...



Xana

Calafrios, hormonas e desequilíbrio materno

O Afonso disse-me "mãe, quando estou feliz sinto uma coisa assim pelo corpo todo. Isto acontece-me quando estou feliz e apaixonado".
Pelo sim pelo não dei-lhe já um Ben-u-Ron. Seguramente que está a chocar alguma.
Esta coisa das hormonas mexe com uma mãe. Não estou preparada para partilhar o meu homem miniatura com mais ninguém. Sobretudo não estou preparada para deixar de ser o amor da vida dele.
Sou um nadinha Drama Queen, já sei.

Em Julho fiz anos. Um dia antes perguntei: "Quem faz anos amanhã?"
O jeitoso respondeu: "A Joana!" (o meu filho tem 5 anos e tem já um namoro sério e assumido há uns meses).
Sou uma mãe tolerante e dei uma segunda oportunidade colada a uma pista: "Não! Quem é a miúda muita gira que faz anos amanhã?"
Resposta: "Só pode ser a Joana!"
Contra-resposta: "Lembras-te da PlayStation que querias?! Esquece!".
Resultado: filho a chorar desalmadamente.

Não sei porquê...às vezes quando faço uma introspecção (parece mentira mas é verdade) tenho a sensação de que eu e ele estamos a crescer em sentidos inversos. Ou seja, ele vai efetivamente rumo ao mundo dos crescidos. Eu estou claramente a desabar para a infantilidade.

Rita




25/09/2015

Devaneios de uma mãe que até costuma ser muito zen

Ah, o tempo que uma mãe tem para respirar... Muito pouco!

Começou a vida escolar para a minha pirralha. Basicamente é mudar de vida: nova escola, novos começos, novas amizades, novas rotinas.
Estou apavorada. Na minha mente pairam sombras. Questões e mais questões. Será que se vai adaptar? Será que vai ter logo novos amigos? Como se irá safar sozinha? Será isto? Será aquilo? Cria asmática e celíaca... ai pânico! Estou em pânico.
Conforto onde estás? Fala comigo. Diz-me, onde pairas? "Está nas mamãs amigas que te acompanham desde o infantário", diz o meu cérebro, parecendo longe.

Começou a vida de estudante. Aiiii socorro!! Quero encaixar-te de novo no meu colo (lembras-te Inês, ficavas horas a dormir no meu colinho, eras um bebé tão pequeno...) e apertar-te muito e não te deixar ir para o mundo.  És minha filha , minha! Quero proteger-te de tudo e de todos. Não quero que tenhas TPC´s e testes e stresses com amigos - como se ir para a escola primária fosse ruim... Tonta.

Vem a cria na sua inocência, aura iluminada, olhos brilhantes e diz me, com atitudes, gestos e olhares "está tudo bem mamã, calma, respira pois está tudo bem. Tudo corre maravilhosamente, estou bem, estou feliz e adoro o colégio."

Que mais pode uma mãe pedir?


Xana

23/09/2015

Ainda sobre o início das aulas...e as dificuldades de adaptação

Este ano letivo tudo mudou. A criança cresceu e entrou na primária.

Neste salto, houve mudança de escola, amigos que foram para longe, outros que continuam perto de casa mas longe da vista. Feitas as contas, foi quase cada um para seu lado e só uma amiguinha é que acompanhou o Afonso neste novo percurso.


Foi dura a mudança: Houve choro na despedida do Jardim de Infância. E abraços. E mais choro. E telefonemas. E mais choro. E encontros. E mais choro.

Na entrada no novo colégio a entrada foi cautelosa. Tudo parece enorme e estranho. As rotinas são um bocadinho assustadoras. Acordar cedo é tramado. A quantidade de coisas que há para aprender em tão pouco tempo é de tirar o fôlego.

Mas o pior é a ausência dos amigos, do grupo, da malta das brincadeiras e das parvoices. Agora já há grupinhos (e não são tão fixes como os outros). Temos claramente os "chicos espertos" que acham que sabem tudo e gostam de o mostrar; temos os "mudos" que obviamente não abrem a boca...um simples "olá" era coisinha para lhes cair um dentinho. Temos os cromos que optam por ser diferentes e fazer tudo às avessas porque deve ser fixe lá na rua deles.

E perante isto a malta fica assim... meio só. Meio perdida. Sem saber se vai conseguir ser como no Jardim de Infância onde se podia ser criança e brincar à séria. Onde tínhamos amigos. E festas. E gargalhadas. E parvoeiras. Muitas parvoeiras.

Bom..quanto à adaptação da criança...foi na maior (o drama lá de cima era só meu). A escola é fixe. É grande e dá para correr e jogar à bola à vontade. Com os chicos espertos, mudos e cromos. Há mais amigos a juntar aos do ano passado. E portanto mais gargalhadas e parvoeiras. Muitas parvoeiras.

Crescer tira-nos clareza e liga-nos o "complicador"!

Rita

21/09/2015

Sentimento pré início das aulas

(para quem, como eu, teve de levar o filho para o trabalho durante as férias)


Contudo, a realidade após uma semana de aulas, com as crianças a ir para escolas novas, é ligeiramente diferente...

Acordar às 7h, preparar mochila e marmita, lidar com o mau humor matinal do miúdo (como se já não bastasse o meu), trânsito para a escola, ouvir a "boca" da professora sobre as horas de entrada, seguir em stresse para o trabalho, acelerar todo o dia para tentar sair mais cedo para outra reunião de pais a horas muito pouco práticas para quem tem de prestar contas no emprego, conhecer os outros pais e perceber que não gosto deles, trazer o miúdo por arrasto para casa (10 horas na escola parece que não lhe chega), preparar-me para a habitual birra por causa do banho, fazer o jantar, ajudar com os trabalhos, ler a história da Quinta do Sr. Francisco pela milésima vez, e adormecer ainda sem a história ter chegado ao fim.

Quando é que são as próximas férias mesmo?


N.

Pediculose

No primeiro artigo para o blog achei que o que fazia mais sentido era prestar uma espécie de serviço público.

Vou falar sobre pediculose. Dito assim parece uma coisa chique. Mas são piolhos.
A pertinência do assunto deve-se ao facto de estarmos em altura de início do ano letivo. Não tem nada a ver com facto do Afonso ter agora entrado para o 1º ano, para uma escola substancialmente maior e de andar o tempo todo à molhada com os amigos.

Partilho os 4 passos a ter em conta quando acontece este flagelo:


1. Quando a criança der o alerta "mãe, tenho comichão na cabeça" há que reagir de forma calma de modo a não transmitir nenhuma ansiedade: "Epá que nojo! Não me digas que apanhaste piolhos!"

2. Quando vamos examinar a cabeça ao mesmo tempo que rezamos a Deus para que não seja piolhagem, há que manter o ar e tom tranquilo do ponto anterior.

3. Eis que finalmente encontramos o bicharoco. Com calma agarramo-lo com toda a força que temos enquanto evitamos não arrancar mais do que 5 ou 6 cabelos à criança. Atira-se o animal ao chão e pisamo-lo com convicção só para ele perceber quem manda aqui.

Depois, ao perceber que o raio do bicho é resistente que se farta, lá temos que usar a técnica da unha. Ouvimos o clássico "crac" e evitamos bolsar.

4. Depois disto o ideal é acalmar a criança.

5. Por fim, obviamente, ligamos à avó! 


Rita





Ups, fomos jantar fora!

Ah, pois é, as mães também saem de casa sem as crias, as mochilas, os bonecos, os tablets, a música infantil aos berros nos carros, o relógio debaixo de olho e os cabelos em pé. Ou, pelo menos, tentam. E até conseguem, mesmo que o processo seja longo e conte com várias tentativas de boicote feitas por seres que pouco mais têm que um metro.

Hoje, decidimos que a noite era nossa, pelo menos até darem as doze badaladas e o sapato de cristal se perder num sms de conteúdo duvidoso: “Quando vens? A criança está a perguntar por ti”. Contar até dez, respirar fundo e relembrar que ser mãe não é deixar de ter individualidade e seguir em frente sem nervoso miudinho nem culpa assumida.

Foram quatro horas bem passadas entre seis da mesma espécie. Risos, angústias, dúvidas, novidades ou simples banalidades partilhadas e regadas com bom vinho e muitas calorias, porque a semana foi dura e nós merecemos.


Carla

18/09/2015

1, 2, 3, vamos lá fazer isto de uma vez!

É desta. Já está!
Após um ano e tal a trocarmos mensagens de puro delírio maternal, eis que se juntam 5 mães para um desabafo coletivo.
Se pirarmos, ao menos que piremos juntas. Mas guardem-nos um quartinho no Júlio de Matos pertinho do bar.

N.